Lisboa aprova por unanimidade candidatura da calçada portuguesa à UNESCO

"Monumento ao Calceteiro", de homenagem a quem trabalha a calçada portuguesa, vai ser recolocado na rua da Vitória, após ter sido retirado por vandalismo.

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Nuno Ferreira Santos

A Câmara de Lisboa deu luz verde para que seja preparado o processo de candidatura da Calçada Portuguesa a Património Cultural Imaterial da Humanidade. A proposta dos vereadores Manuel Salgado, António Prôa e Catarina Vaz Pinto reuniu consenso entre todos os presentes na reunião do executivo, esta quinta-feira.

Esta candidatura é uma “oportunidade para valorizar, inovar e aperfeiçoar a sua aplicação e manutenção da calçada artística, aplicando novas técnicas e atraindo artistas para a sua criação”, salientou António Prôa, vereador do PSD, em comunicado. Manuel Salgado e Catarina Vaz Pinto são vereadores pelo PS, o que levou Prôa a destacar a candidatura como “um desafio e um compromisso para além das questões partidárias.”

A mesma intenção já tinha levado, em Setembro, Fernando Pereira Correia, calceteiro de profissão, a criar uma petição pública a pedir a candidatura da calçada à UNESCO. Petição que já ultrapassou as cinco mil subscrições necessárias para que seja discutida no Parlamento.

Com o objectivo de promover a calçada e a arte do calceteiro “enquanto elementos identitários da cidade”, a autarquia decidiu ainda recolocar a escultura “Monumento ao Calceteiro” no local de onde foi retirada devido a actos de vandalismo. A escultura de Sérgio Stichini estava na rua da Vitória desde 2006 tendo entretanto sido removida e guardada pelo município.

O monumento surgiu, há dez anos, por iniciativa da autarquia como forma de homenagear a actividade dos calceteiros, “cujo árduo trabalho tem contribuído para a valorização do espaço público e identidade da cidade”, lê-se em comunicado.

Esta iniciativa conta com o apoio da Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores Granitos e Ramos Afins (Assimagra), representante dos produtores de calçada. A Assimagra vai fornecer a pedra de calçada para fazer o enquadramento do “Monumento ao Calceteiro”. Como se lê na proposta enviada à imprensa, a associação manifestou interesse em colaborar com a autarquia “na promoção da calçada portuguesa enquanto elemento de identidade e valorização do espaço público.”

O executivo de Fernando Medina tem vindo a substituir, no âmbito do programa Pavimentar Lisboa, vários troços de calçada portuguesa por outros materiais, salientando que a substituição não será feita nas zonas históricas da cidade. No início do ano, a calçada dos passeios na Rua de Alcântara, a rua-modelo para o resto da cidade, ficou-se por uma estreita faixa junto aos prédios, tendo o restante sido substituídos por blocos de cimento branco e pedra de lioz.

Património secular

Foi no século XIX que os primeiros passeios de calçada portuguesa, de acordo com a proposta da autarquia, surgiram em Lisboa. Primeiro no Castelo de São Jorge - então prisão - aplicada pelos presos sobre as ordens do governador de armas do castelo, o tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado. Foi posteriormente atribuído ao tenente-general a tarefa de coordenar a pavimentação em calçada portuguesa do Rossio.

Desta praça, a calçada portuguesa espalhou-se pela capital, e “rapidamente por todo o país e depois um pouco por todo o mundo onde se fala português, seja nas antigas colónias portuguesas, seja onde existe ou existiu presença de portugueses.” 

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