10 Junho: PS quer cooperação para vencer a crise e Bloco critica apoio de Marcelo ao sector da Saúde

Reacções aos discursos do Presidente da República e do cardeal Tolentino Mendonça na cerimónia do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

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O Presidente da República discursa no claustro do Mosteiro dos Jerónimos Rui Gaudêncio

O secretário-geral adjunto do PS defende ser “essencial” que o espírito de cooperação nacional que ajudou a controlar a pandemia de covid-19 deve continuar para que o país vença a crise económica e social muito profunda causada pelo vírus. Segundo José Luís Carneiro, “as mensagens do Presidente e do cardeal são inspirações que interpelam à solidariedade, à justiça social, à cooperação”.

“Nós fomos capazes, como foi sublinhado pelo senhor Presidente da República, de controlar a expansão da epidemia para níveis para os quais temos, neste momento, capacidade de resposta. Estamos confrontados agora com uma crise económica e social muito profunda que exige o mesmo espírito de cooperação e de convergência política nacional de todos os partidos na Assembleia da República, de todas as instituições nacionais, regionais e locais.”

José Luís Carneiro, que reagia, na sede da Federação Distrital do PS no Porto, aos discursos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do cardeal José Tolentino de Mendonça nas comemorações do 10 de Junho, desafiou o país a “aproveitar a estrutura de oportunidade que se abre na União Europeia (UE), quer com os instrumentos financeiros de apoio à recuperação económica, quer com a adaptação da estrutura económica e produtiva nacional a essa estrutura de oportunidade que se abre no quadro europeu”.

“Para quê? Para conseguirmos proporcionar a recuperação das condições de vida das pessoas que irão padecer durante vários meses, não apenas com a crise de saúde pública, mas também com a crise económica e social”, acrescentou.

Questionado pelos jornalistas sobre o impacto que a saída de Mário Centeno poderá ter nessa fase de recuperação económica e social do país, José Luís Carneiro disse “tratar-se de uma decisão pessoal que merece respeito”. Realçou que o ministro “em muito contribuiu para vida económica, orçamental e financeira do país e para a própria transformação da resposta europeia que vinha do tempo da austeridade” e procurou o “equilíbrio entre as funções sociais do Estado e o rigor das contas públicas”, destacou.

Também o PSD subscreve a mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa. “Não podemos fingir que nada aconteceu. Portugal está em desconfinamento, a nossa economia precisa que nós estejamos em desconfinamento, mas precisa também que tenhamos consciência de que a pandemia ainda está declarada no mundo”, afirma o vice-presidente do PSD, o deputado André Lima Coelho num depoimento por vídeo divulgado pelo partido. E apela: “Tenhamos consciência de que o pior que nos pode acontecer é regredir num percurso de combate à covid-19 em que estamos claramente a progredir.”

André Lima Coelho pede, por isso “sentido de responsabilidade” para que o levantamento de restrições seja feito “passo a passo” para a “recuperação plena” da economia. E também faz questão de realçar que o PSD, através de Rui Rio, tem assumido a “postura patriótica que se exige a um partido de oposição e de alternativa de Governo”, ajudando a construir “soluções” com propostas como o seu programa de recuperação económica e medidas na área social.

Bloco lembra Marcelo que muitos profissionais da saúde são precários

Do Bloco vieram críticas indirectas a Marcelo Rebelo de Sousa, que disse que tenciona homenagear em breve os profissionais da saúde, condecorando aqueles que lidaram com os primeiros casos de coronavírus em Portugal. A eurodeputada Marisa Matias aludiu a esse facto para realçar que muitos dos trabalhadores do sector da Saúde que o Presidente da República classifica de essenciais para o país não têm direitos laborais porque estão em situação de precariedade laboral.

A pandemia, vincou a bloquista, veio mostrar que é o SNS que serve ao país em tempos de crise porque conseguiu ar uma “resposta extraordinária” ao mesmo tempo que os privados “fechavam as portas” - numa alusão também ao facto de Marcelo ter sido crítico da solução encontrada para a aprovação da nova Lei de Bases da Saúde. Da intervenção do cardeal Tolentino de Mendonça, Marisa Matias saudou a referência aos “idosos que não podem ser abandonados, aos jovens que não podem ser precários, aos emigrantes que não podem ser secundarizados e aos cuidadores que não podem ser esquecidos”.

Aplaudido o humanismo do cardeal Tolentino de Mendonça

O presidente do Governo Regional da Madeira usou a sua página da rede social Facebook para elogiar o seu conterrâneo e o facto de Tolentino de Mendonça ter falado da região. “Fez alusão à nossa Madeira, da forma célebre e magnificiente como apenas o seu dom e a leveza das suas palavras conseguem. É a prova de que onde está um madeirense, está a Madeira também e está o nosso país. Celebremos as nossas raízes e a nossa força, porque como diz o nosso cardeal ‘podemos amar os nossos países pela sua força ou pela sua fragilidade’”, escreveu Miguel Albuquerque.

Carlos Silva, o secretário-geral da UGT, preferiu olhar mais para o discurso de José Tolentino de Mendonça sobre as raízes, destacando o “papel do humanismo cristão, assente na concepção da compaixão, do amor ao próximo, de não deixar ninguém para trás - os idosos confinados, institucionalizados e ostracizados na sociedade actual, não transmitem o saber às novas gerações”. A que somou a referência aos “precários vítimas da ganância e de muitos empresários, com comportamentos pouco dignificantes do ponto de vista social”. O sindicalista leu aqui um “alerta atento a quem nos governa sobre o aprofundar das desigualdades e da pobreza”.

“Dom Tolentino de Mendonça relembrou-nos o sentido da vida, da comunidade, da vida em sociedade, da memória e honra ao nosso passado colectivo, mas com uma reflexão sobre o presente, tão inquinado pelas consequências de uma pandemia, tão nefastas nas expectativas dos nossos concidadãos, em particular dos mais jovens, tão castigados por sucessivas crises sobre as suas vidas e o seu futuro”, afirmou ainda Carlos Silva em comunicado.

Já o CDS divulgou uma mensagem em vídeo do presidente do partido por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas que não faz qualquer referência aos discursos da cerimónia oficial, mas onde defende que o “patriotismo”, nas suas várias vertentes, é a “chave” para se vencer a actual “maré pandémica”. Francisco Rodrigues dos Santos enumera o “patriotismo social” que une os portugueses em torno da “universalidade da língua, do orgulho na nossa História e do amor ao nosso povo, e nos convida a cuidarmos uns dos outros, sobretudo dos que estão a ficar para trás, em particular os mais idosos”; acrescenta o “patriotismo económico” de uma aposta no empreendedorismo, na capacidade e atrair investimento para o país, e nos sectores produtivos e no consumo de produtos e marcas portuguesas.

O presidente centrista homenageia os “verdadeiros heróis de bata branca” que são os profissionais de saúde, mas menciona também as Forças Armadas e as forças de segurança – sobre estas últimas diz mesmo rejeitar os “discursos de ódio contra elas”, numa alusão às recentes manifestações anti-racismo com palavras de ordem contra os polícias.

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