António Costa: “Antes de 2022 não estaremos onde estávamos em 2019”

Esta “doença” económica que afecta o mundo não se trata com mais restrições, reconhece o primeiro-ministro. É preciso incentivos. Mas a crise vai durar.

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Depois de retomar um hábito antigo – tomar café na histórica Pastelaria Califa, em Benfica, Lisboa –, o primeiro-ministro deu uma entrevista à TSF esta segunda-feira, dia em que se iniciou o segundo período de desconfinamento. António Costa deixou um aviso: nada voltará ao que era antes de 2022.

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Depois de retomar um hábito antigo – tomar café na histórica Pastelaria Califa, em Benfica, Lisboa –, o primeiro-ministro deu uma entrevista à TSF esta segunda-feira, dia em que se iniciou o segundo período de desconfinamento. António Costa deixou um aviso: nada voltará ao que era antes de 2022.

“As contas do ministro das Finanças apontam para que antes de 2022 não retomemos onde estávamos em 2019”, disse o chefe do Governo. Mas, como optimista que é, António Costa logo acrescentou: “Tenho confiança que isso seja possível, desde que façamos as opções certas”.

Por opções certas o primeiro-ministro não entende mais austeridade, até porque esta é uma crise à escala global, e em nada parecida com a última. “Não temos de acrescentar medidas de restrição para responder a esta crise. Esta crise precisa é de incentivos para retomar a cadeia de produção”, disse o primeiro-ministro, lembrando que Bruxelas “já disse que o défice não é uma das preocupações”.

Neste contexto, Costa lembrou que tem havido muitos contactos e deu como exemplo o longo telefonema com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no sábado, para conversar sobre o plano para ajudar a recuperar a economia europeia. Para Portugal, a prioridade tem sido tentar assegurar que as transferências sejam apoios a fundo perdido.

Costa volta a rejeitar bloco central

Apesar de ter deixado um elogio a Rui Rio pelo tipo de oposição que fez nestes últimos meses, o primeiro-ministro lembrou na TSF que, no sistema partidário português, só há dois partidos que podem liderar a alternativa: o PS e o PSD. “Soluções de bloco central empobreceriam a capacidade de gerar alternativas”, concluiu, para responder a uma pergunta sobre quem será o parceiro ideal para aprovar o Orçamento Suplementar.

Sobre este tema, disse ainda que gostaria que ele fosse aprovado “por unanimidade”, mas que não se ilude. Em qualquer dos casos, Costa não vê “razão para alterar as orientações políticas do país” (os apoios têm vindo da esquerda).

O primeiro-ministro mostra-se satisfeito pelo bom senso que reina entre os portugueses, uma característica que tem contribuído para que ele fique “imunizado à emergência dos populistas”.

Convidado a recuar menos de uma semana, às declarações que proferiu ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, à porta da Autoeuropa, António Costa espantou-se. “Ora aí está como uma expressão causa tanta agitação...” A seguir, optou pelo recato e disse: “O voto é secreto e o primeiro-ministro deve manter a regra de ter a consciência de que terá de trabalhar com qualquer Presidente da República escolhido pelos portugueses. Deve procurar ter particular recato.”

Ainda assim, António Costa disse que não é preciso ser vidente para perceber o que querem os portugueses. “Qualquer que seja o meu sentido de voto, há uma coisa que é fácil de antever, que é o desejo profundo dos portugueses em matéria de estabilidade quanto ao exercício da matéria presidencial”, sublinhou o chefe de Governo. “Se houver candidatura, ele [Marcelo] será o Presidente eleito pelos portugueses, não é preciso ter grande finura de análise política...”

António Costa lembrou, a este propósito, que o PS tem uma tradição: “Nunca lançou candidato, pronunciou-se sempre sobre um candidato que existia.” Isso mesmo voltará a acontecer este ano, num momento posterior à existência de “um quadro de candidatos” e “em função dos candidatos que surgirem”.

E qualquer um pode ainda ter o apoio do PS, deu a entender Costa, abrindo uma excepção: “Há um candidato já anunciado que nunca terá, seguramente, o apoio do PS: André Ventura.

Centeno em pleno

A conversa na TSF começou por um tema quente: a crise com o ministro das Finanças a pretexto do Novo Banco e a eventual saída a prazo de Mário Centeno. “Quando esse problema se puser, pensarei nesse assunto. Já tenho problemas suficientes. Quando essa questão se puser, pensarei nela”, respondeu António Costa quando questionado sobre se tem alguém, dentro do Governo, para suceder a Mário Centeno.

Antes, António Costa já tinha dito que tinha havido uma falha de comunicação que foi esclarecida, mas sublinhou que “o ministro está a trabalhar em pleno”. E acrescentou: "Como disse o Presidente, os portugueses têm razões para estar satisfeitos com Mário Centeno.”

O chefe de Governo disse ainda que é conservador nas remodelações, mas lembrou que já fez várias. “Quando tenho de fazer remodelações, faço.” E não recusou vir a nomear Mário Centeno para o Banco de Portugal, referindo que, quando chegar o momento de escolher o sucessor de Carlos Costa, falará com os outros partidos.

Perante uma questão sobre o 1.º de Maio, o primeiro-ministro disse não ter “notícia de que não tenham sido cumpridas” as regras da Direcção-Geral da Saúde. “As regras do 1.º de Maio foram definidas e não tenho notícia de que não tenham sido cumpridas”, reconheceu, explicando que a circulação entre concelhos estava prevista em alguns casos.

Sobre a Festa do Avante! ou o comício marcado pelo PCP para o início de Junho, Costa preferiu não se pronunciar, mas lá foi dizendo que “há direitos fundamentais” que têm de ser respeitados. 

Já sobre a questão dos ginásios e bares e discotecas, o primeiro-ministro reconheceu que ainda não é o momento para reabrirem. Pode até dar-se o caso de bares e discotecas não reabrirem durante todo o Verão.

António Costa voltou a insistir que, se tiver de dar um passo atrás, vai fazê-lo “com a mesma tranquilidade” com que hoje disse aos portugueses que podem sair à rua. “Estes meses de Maio e Junho são muito importantes para treinarmos novas rotinas” que podem ser necessárias no início do novo ano lectivo, por exemplo.

“Portugal era dos países que tinha menor números de camas em cuidados intensivos por habitante”, afirmou ainda o primeiro-ministro na entrevista à TSF, para explicar as dificuldades com que o país se debateu desde o início da pandemia.