A definitiva viagem da TAP

Nacionalize-se a TAP, mas impondo ao Estado Português as mesmas exigências ambientais na sua gestão na linha do Green Deal!

Kate Raworth, a autora da Economia Donut (Doughnut Economics, Creating a 21st century economy), ou seja, uma Economia Circular em lugar de Linear, que mantém a ideia do crescimento dentro dos limites do permitido ecologicamente e aceitável na nossa coabitação com a Natureza, compara o conceito do crescimento ilimitado a um avião, em cujos passageiros se encontram prisioneiros de uma linha ascendente imparável. Avião esse que nunca poderá voltar a aterrar.

O corona obrigou-nos repentinamente a uma ‘aterragem forçada’, interrompendo abruptamente o transe orgiástico do festim consumista, libertando-nos, num processo doloroso e dramático.

Assim, o “Lockdown” roubando-nos a, tida como natural, liberdade de acção no fluxo da vida, ofereceu-nos uma outra liberdade. A liberdade do “Slowdown”, uma pausa para reflectir e assumir um novo curso e uma trajectória alternativa de Vida. Uma Vida de maior diálogo com a Natureza e sintonia com o Planeta.

Ursula Von Der Leyen já tinha avisado a 16 de Abril, no tumulto das decisões das ajudas financeiras, que não iria abdicar do “Green Deal”. O pacote ‘Bazuka’ a ser apresentado nos meados de Maio, irá associar as ajudas financeiras às exigências ambientais.

Para ficarmos dentro da metáfora da ‘viagem aérea’, a aviação tem conhecido um crescimento selvagem e irresponsável na perspectiva ambiental. O sector não parou de crescer, e hoje em dia conta com, pelo menos, mais de duas centenas entre companhias privadas e públicas.

A pegada de carbono também não parou de aumentar, e as companhias de aviação têm demonstrado muito mais inclinação para especularem com o seu capital financeiro em autovalorização, investindo milhares de milhões na compra das próprias acções, as famosas “buy backs”, do que para investirem em verdadeiras e efectivas medidas capazes de minimizarem os efeitos dessa pegada.

A atitude tem sido a de uma gestão financeira absolutamente privada, dentro do lema “não se metam nos nossos assuntos financeiros”.

Agora que o pânico se instalou, pois tudo indica que vamos a caminho de uma selecção real e natural de viabilidade comercial, o que implica a falência de várias dezenas de Companhias, passou-se do princípio dos ‘Lucros são Privados’ para o princípio de os ‘Riscos são Públicos’ e devem ser sustentados com o dinheiro do contribuinte.

Ora a TAP, com o pedido dos seus 600 ou 700 milhões de euros, não é um caso único.

Apenas para utilizar um exemplo: a Air France vai receber 7 mil milhões de euros. 4 mil milhões virão dos Bancos com garantias de 90% do Estado. Os outros 3 mil milhões virão directamente do Estado.

Mas este verdadeiro “tiro de Bazuka” não irá ser oferecido sem exigências. O que o Ministro Bruno Le Maire exige é que a Air France se transforme na Companhia mais Verde da Europa.

Como a França tem de reduzir a sua pegada de carbono em 50% nos voos domésticos nos próximos cinco anos, o Ministro propõe a substituição total das short trips por viagens de comboio.

Isto, de resto, vai ao encontro do pacote a apresentar este mês por Von der Leyen, que anuncia grandes investimentos no transporte ferroviário e fortes exigências ambientais para o tráfego aéreo.

Falar em Portugal de transporte ferroviário é ridículo. O país ainda se encontra prisioneiro da cega e irresponsável síndroma ‘Montijo”.

Só há uma medida verdadeiramente efectiva na gestão ambiental do transporte aéreo: voar menos!

Deixe-se então a selecção natural de viabilidade financeira e comercial real funcionar, reduzindo as companhias ao número essencial de algumas dezenas. Nacionalizando uma grande parte delas.

Nacionalize-se a TAP, mas impondo ao Estado Português as mesmas exigências ambientais na sua gestão na linha do Green Deal!

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