A comunidade LGBT do Uganda (re)encontrou as perseguições num campo de refugiados do Quénia

Kimuli Brian e Dennis Wasswa Goran Tomasevic | REUTERS
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Kimuli Brian e Dennis Wasswa Goran Tomasevic | REUTERS

Eva Nabagala faz parte da comunidade de cerca de 300 pessoas LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual e Transexual) do campo de refugiados de Kakuma, no Quénia. Fugiu do Uganda com o filho para escapar às perseguições da própria família. Mas diz ter sido agredida e violada quando chegou ao campo, como "castigo" por ser lésbica: "Fui ameaçada de morte, espancada, assediada e abusada sexualmente", conta à Reuters. "Fugi de casa porque queria estar segura, queria protecção, mas tornou-se no oposto."

Não é a única. Stephen Sebuuma, refugiado ugandês, conta que outros residentes do campo, armados com ferros, paus e lâminas, atacaram as suas casas por três vezes, magoando quatro adultos e duas crianças. E Kambungu Mubarak, também do Uganda, diz que os atacantes incendiaram duas casas. "A polícia insulta-nos, em vez de nos ajudar", atira Stephen. 

À Reuters, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) disse oferecer apoio aos sobreviventes e que a polícia está a investigar queixas de violência, assédio e outros crimes: "Sempre que somos informados, fazemos o que podemos para conseguir apoio médico, legal e socio-económico, bem como aconselhamento psicológico", afirmam. Sobre a situação denunciada por Stephen, dizem que logo que foram informados do ataque, contactaram o Secretariado de Assuntos dos Refugiados do Quénia, enviaram a ambulância e contactaram a polícia, que começou investigações. Mas Stephen diz que a polícia nunca os ajudou: "Fizemos muitas queixas escritas. A própria polícia às vezes persegue-nos, diz-nos que está farta de nós." Charles Owino, porta-voz da polícia do Quénia, disse à Reuters não ter conhecimento de qualquer tipo de violência contra grupos de refugiados. 

No Quénia, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são puníveis com penas de até 14 anos de prisão. Ainda que a prisão raramente aconteça, a discriminação destes grupos é comum. Alguns refugiados da comunidade LGBT contam que tentaram deixar o campo no passado, mas a vida era tão difícil que acabaram por voltar. É o caso de Eva, que deixou o campo, mas foi violada em Mombaça e acabou por voltar. 

Winnie Nabaterega deixou o Uganda em 2019, depois de ter engravidado na sequência de uma violação. O seu pai pressionou-a para casar com o agressor. Agora, com a filha de dois anos a viver consigo no campo, conta que é constantemente ameaçada por outros refugiados. "Disseram-nos que porque éramos homossexuais iam pôr veneno na água."

Ninshaba Erigalda, Shamim e Nabaterega Winnie
Ninshaba Erigalda, Shamim e Nabaterega Winnie Goran Tomasevic | REUTERS
Mousa
Mousa Goran Tomasevic | REUTERS
Suzan Nakajiri
Suzan Nakajiri Goran Tomasevic | REUTERS
Goran Tomasevic | REUTERS
 Kambugu Mubarak, Muheeza Jumapili Frank, Kikongo Andrew e Mulumba Musa
Kambugu Mubarak, Muheeza Jumapili Frank, Kikongo Andrew e Mulumba Musa Goran Tomasevic | REUTERS
Goran Tomasevic | REUTERS
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 Kimuli Brian e Dennis Wasswa
Kimuli Brian e Dennis Wasswa Goran Tomasevic | REUTERS
Goran Tomasevic | REUTERS
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Eva Nabagala e o filho
Eva Nabagala e o filho Goran Tomasevic | REUTERS
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 Suzan Nakajiri e Eva Nabagala
Suzan Nakajiri e Eva Nabagala Goran Tomasevic | REUTERS