Fantasmas

“Vou enviar-te um vídeo com fotografias minhas”. Envia. “Não são só sobre as ruas vazias, que já todos vimos isso. São sobre outra coisa, a noite, a ausência, o abandono, a dor da perda, os que não conseguem descansar”. Está bem. “Como eu.” O texto estava escrito nesta conversa, e o Paulo Pimenta não precisava de mim para nada, mas mesmo assim pediu que o escrevesse. O vídeo chegaria na sexta-feira, talvez no sábado. Chegou este domingo, com os fantasmas que ele conhece porque os procura, porque partilha com eles a noite e o silêncio que a escuridão traz.

Já todos vimos como as ruas das cidades se esvaziaram nas últimas semanas, disse-me. Mas estas pessoas não as largam. Porque não querem, porque não podem. Porque precisam de sentir o vento no rosto enquanto caminham. Porque a dor que sentem não cabe dentro de quatro paredes e precisa de espaço para se aligeirar. Porque não têm casa para se abrigar. “São imagens sobre o abandono que as pessoas sentem por tudo o que está a acontecer”, disse-me. “Eu depois explico-te melhor”, continuou. Não vale a pena. Já explicaste tudo aqui.

Fotografias de Paulo Pimenta, áudio e montagem de Ana Marques Maia, texto de Patrícia Carvalho