Covid-19: número de casos na China pode ser quatro vezes maior, revela estudo

Estudo da universidade de Hong Kong diz que casos assintomáticos e com sintomas leves não foram contados em fases iniciais: “A definição do caso foi inicialmente restrita e foi gradualmente sido expandida para permitir detecção de mais casos”.

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Wuhan, na província chinesa de Hubei, onde teve origem a pandemia da covid-19 ALY SONG/Reuters

Os dados do Governo chinês dizem que, até esta quinta-feira, o país teve 84.288 casos de covid-19. No entanto, um estudo da faculdade de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong sugere que, em Fevereiro, o número real de casos pode ter sido quatro vezes superior.

O estudo, publicado na terça-feira na revista The Lancet, diz que, até ao dia 20 de Fevereiro, podiam estar infectadas 232 mil pessoas, bem acima dos 55 mil casos que o Governo tinha como confirmados. O estudo usou sete versões do estudo da pandemia feito pela Comissão Nacional de Saúde da China, realizadas entre os dias 15 de Janeiro e 3 de Março, e constatou que a proporção de infecções detectadas foi crescendo.

Tendo em conta o crescimento da capacidade de testagem, foi calculado que, na quinta versão, o número de casos até dia 20 de Fevereiro podia ser quatro vezes superior. O estudo usou também dados da missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Wuhan.

“A definição do caso foi inicialmente restrita e foi gradualmente sido expandida para permitir detecção de mais casos”. Os investigadores explicam que, à medida que o conhecimento científico sobre o coronavírus e a covid-19 foram evoluindo, foi-se percebendo também que era necessário incluir casos com sintomas leves ou assintomáticos, e sem ligações a Wuhan.

O estudo avisa ainda que as mudanças na forma como a doença foi progressivamente analisada “devem ser tidas em conta quando forem feitas conclusões sobre o crescimento epidémico dos casos e a duplicação, para evitar ambivalência”.

Estas conclusões surgem quando alguns países responsabilizam a China por não ter revelado a dimensão da doença na fase inicial.

Apesar de a OMS ter garantido várias vezes que trabalhou com o Governo da China, a comunidade internacional tem levantado dúvidas sobre os números apresentados por Pequim. A China tem vindo a rever os seus números e, na semana passada, autoridades de Wuhan - onde a pandemia teve origem - disseram que havia mais 50% de óbitos do que os inicialmente contabilizados.

Pequim desmentiu que tenha havido encobrimento, depois das acusações do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusou ainda a OMS de ser demasiado “centrada na China” e de “espalhara desinformação chinesa”, tendo por isso cortado o financiamento americano à instituição até Junho ou Julho.

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