Covid 19: EUA procuram parceiro alternativo à OMS para vacinas e outro “trabalho importante”

Departamento de Estado indica que suspensão de financiamento à Organização Mundial de Saúde no meio de uma pandemia se deve à suspeição de que a China não partilhou tudo o sabia sobre o coronavírus.

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A China é o principal alvo destas acções da Administração norte-americana LUSA/WU HONG

Os Estados Unidos estão à procura de um parceiro alternativo à Organização Mundial de Saúde (OMS) com quem colaborar para desenvolver “trabalho importante, como vacinas”, anunciou o director interino da agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Jim Richardson, prometendo “novos anúncios sobre o financiamento da saúde global nos próximos meses”.

Os EUA anunciaram na semana passada que congelavam o financiamento à OMS - do qual são o maior financiador -, pelo menos até Junho ou Julho, acusando esta agência das Nações Unidas, e em particular o seu director-geral, de “espalhar desinformação chinesa” e de “provocar muitas mortes com os seus erros”. A acusação mantém-se, e a OMS surge como um espantalho útil numa guerra que tem como alvo a China.

O secretário de Estado Mike Pompeo acusou nesta quarta-feira o Partido Comunista Chinês de não ter avisado a OMS do surto de um novo tipo de coronavírus logo que foi detectado. E de não ter confirmado que o vírus se transmitia entre seres humanos “durante um mês, até já se ter espalhado a todas as províncias da China”.

Estas acusações foram formuladas numa conferência de imprensa no Departamento de Estado (na Administração Trump, a USAID foi fundida com o Departamento de Estado, e os programas e montantes disponíveis para a ajuda ao desenvolvimento de outros países levaram grandes cortes). Pompeo diz ainda que a China “não partilhou amostras do vírus recolhidas no país com o mundo exterior”, embora a sequenciação genómica do novo coronavírus tenha sido rapidamente publicada por vários cientistas, não só chineses como dos vários países onde a doença foi surgindo.

“A China não partilhou toda a informação que tinha. Em vez disso, escondeu quão perigosa a doença era”, declarou Pompeo.

Analistas políticos destacam que estes ataques são uma forma de os EUA desviarem as atenções da lentidão com que reagiram à pandemia da covid-19. A China recusa as acusações de ter gerido mal a partilha de informações sobre o novo coronavírus, garantindo ter mantido a transparência.

Jim Richardson, que assumiu o cargo após a saída programada da direcção da USAID do administrador Mark Green a 10 de Abril, explicou que um dos objectivos do congelamento do financiamento à OMS é “averiguar se a organização está a ser gerida como devia”. Durante esta pausa no financiamento, “será avaliada a possibilidade de trabalhar com novos parceiros, para além da OMS”, afirmou. “O que importa é salvar vidas, e não salvar uma burocracia”, disse Richardson, que é um colaborador próximo de Mike Pompeo – trabalha com este desde 2011, em posições de chefe de gabinete ou gestor de campanha, enquanto congressista, e no Departamento de Estado, desde que Pompeo foi para o Governo.

Com este discurso, os EUA conseguiram criar um enorme clima de desconfiança. Instituições de saúde, como os Institutos Nacionais de Saúde norte-americanos (NIH), ou Bill Gates - a sua fundação é o segundo maior financiador da OMS – tornaram-se alvos da extrema-direita, tal como a própria OMS.

Cerca de de 25 mil endereços de email e passwords que apregoam ser dos NIH, da OMS, da Fundação Bill e Melinda Gates e outras instituições envolvidas na luta contra a covid-19 foram postas online, noticia nesta quarta-feira o Washington Post. O primeiro sítio onde foram divulgadas foi o 4chan, um site conhecido pelos comentários e propaganda de extrema-direita e racista, e daí espalhou-se para outras redes sociais.

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