Antecâmaras ou carros voadores?

À Arquitectura, e ao Urbanismo, cabe a reflexão da relação de simbiose e mutualismo entre cidade e território e a paisagem, e a recuperação da domus como célula de unidade de organização urbana, garante de segurança e saúde de todos.

A realidade pandémica inerente à globalização parece ter-nos colocado a falar a mesma língua ou, pelo menos, estaremos mais sensíveis às transformações necessárias à sobrevivência da humanidade. No Canadá, com um número de contagiados próximo de Portugal, morreram menos de 100 pessoas, no mesmo espaço de tempo. Temos a 3,ª população mais envelhecida da Europa e muitos jovens a trabalhar fora deste país tão descapitalizado.

O problema não é o capital, é a falta dele, seja financeiro ou social, e a Europa tem aqui uma oportunidade nesta ilusória tábua rasa económica à escala planetária. É uma pena que permita que estados-membros com offshores, como a Holanda, sejam parasitários de outros que não combatem a fuga de capitais para esses offshores, como Portugal. Será uma utopia, a ética e a solidariedade serem a regra num sistema capitalista e social europeu?

À Arquitectura, e ao Urbanismo, cabe a reflexão da relação de simbiose e mutualismo entre cidade e território e a paisagem, e a recuperação da domus como célula de unidade de organização urbana, garante de segurança e saúde a todos (conhecimentos em medicina do arquitecto desde o livro II de Vitrúvio). Chegaremos à antecâmara com duche para entrada no apartamento, vindos do espaço público, por acessos verticais e distribuição pedonal, como hoje, ou, por cápsula-móvel, vulgo carro voador, directamente para uma antecâmara pelo exterior da construção de alta densidade, continuando o isolamento físico da esfera pública? Quais os sistemas de navegação, controle e adaptação a essa construção?

A autonomia da mobilidade familiar como extensão dessa possibilidade de isolamento habitável traz alguma sanidade mental, adaptada às variações de densidade, e nas suas desigualdades, que se compensam pelo acesso universal à habitação digna e à tecnologia, evitando disrupções no acesso à educação e cultura. 

Terá ficado provado que o automóvel, neste contexto de confinamento, é o prolongamento móvel da célula habitável. Se carros voadores que levitam, sem friccionar as vias, como resposta ao aquecimento global, baixando a temperatura das cidades, já são produzidos e anunciados pela Volkswagen chinesa há anos, por onde seguimos nos investimentos para o futuro, a médio e longo prazos? 

As ligações ferroviárias metropolitanas, logística de pessoas e bens, obrigam a novos designs para menores densidades de ocupação e ventilação de compartimentos partilhados. São paisagens, sistemas, espaços e modos de habitar, que podemos recolher dos livros de Ficção Cientifica, do cinema, dos utopistas do início do século XX à Arquitectura Paramétrica, da filosofia contemporânea à Research by Design.

A Revolução Verde irá esculpir crateras, contribuindo para um «mosaico agravado da paisagem», talvez útil como corta-fogo à escala deste país florestal. Como não há lítio suficiente na Europa, de que alianças depende a diversidade energética? A par desta adaptação teremos de ter uma monitorização da democracia sem precedentes, para não perdermos algo parecido com liberdade: a nossa autonomia.

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