Silenciosos na bruma

Permanecendo escudados nos seus confortáveis gabinetes ou nos seus lares, os responsáveis do ensino superior serão corresponsáveis, por omissão, do que suceder de negativo este ano.

Urge debater e refletir mais aprofundadamente o acesso ao ensino superior, devendo este tópico merecer, igualmente, o interesse e contributo dos responsáveis e corpo docente deste nível de ensino, que, não raras vezes, se queixam da impreparação com que lhes chegam os alunos. Baixe-se o tom das lamentações e aumente-se a vontade de resolver um problema que se arrasta há muitos anos e ninguém demonstrou, ainda, capacidade de o abordar condignamente, votando-o ao esquecimento, adiando-o ad aeternum. Enquanto não se concretizar este desígnio, a pergunta é óbvia: a quem interessa a sobrevalorização dos resultados dos exames nacionais?” (Filinto Lima, in PÚBLICO, 06.02.2018)

A Educação aguarda, suspensa, pelas decisões que o ministério que a tutela comunicará ao país na próxima reunião do Conselho de Ministros, no tocante ao decurso do 3.º período letivo, com a atenção voltada para o calendário de exames de 11.º e 12.º anos, na certeza de que os resultados interferem na média de acesso ao ensino superior. Todavia, não nos desviemos da principal premissa que nos une presentemente – a saúde dos alunos, professores, funcionários, famílias… de todos, sem exceção.

Sentimos que os valores humanos mais nobres se erguem em manifestações de cidadania plena, assumidas por este nobre povo que levanta orgulhosa, e novamente, a bandeira de Portugal com o esplendor que lhe é reconhecido.

A Pátria educativa, a nossa, quer sentir a voz dos responsáveis políticos e, também, a dos líderes das instituições de ensino superior, que se ocultam nas brumas de que não há memória, pretensamente, solidarizando-se com a Educação que olham com a sobranceria habitual, numa desfaçatez incompreensível para com os ilustres antepassados. Devendo, moral e eticamente, ser implicados nas soluções, algumas questões sobressaem: estariam disponíveis para abrir as suas portas se o cenário de emergência o aconselhar? Concordariam com a anulação (ou revisão) do numerus clausus no próximo ano letivo? Aceitariam a responsabilidade de realizar as provas de aptidão para o acesso ao ensino superior? Terão sido já debatidos com seriedade estes temas? Atente-se ao facto de este não ser um assunto emergente do presente que vivemos, sendo recorrentemente trazido à colação, como se constata no preâmbulo deste artigo.

Comodamente, as instituições do ensino superior apropriam-se dos resultados do ensino secundário sem qualquer envolvimento ou contributo no processo, numa atitude censurável, mais ainda no momento atual, em que estamos a lutar pela Pátria e sentimos que são dadas as costas a quem entrega o pão sem pedir nada em troca. Ecoa a afronta!

Pela Europa, diversos países escolhem não utilizar o diploma de conclusão de estudos ou consideram-no concomitantemente com outros critérios, como sejam a realização de entrevista, a aplicação de testes de admissão, entre outros.

Permanecendo escudados nos seus confortáveis gabinetes ou nos seus lares, evitando acudir a uma questão que deveria ser orgulhosamente assumida, os responsáveis políticos e institucionais do ensino superior serão corresponsáveis, por omissão, do que suceder de negativo, dada a dolosa inércia face a uma situação que, pela gravidade, impõe a união.

Aproveite-se, pois, a oportunidade de ouro para o debate e a revisão do modelo de acesso ao ensino superior, fortalecendo, amplamente, esta Educação valente e imortal!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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