Um milhão de euros para fazer chegar a música a casa dos portugueses

Parceria do Ministério da Cultura com a RTP dá origem ao TV Fest. Fernando Tordo, Marisa Liz, Ricardo Ribeiro e Rita Guerra abrem um festival que vai chegar aos ecrãs domésticos durante um mês, ou mais.

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Fernando Tordo Rita Carmo

“TV Fest – de casa dos artistas para a sua televisão”. É este o mote do festival integralmente dedicado à música portuguesa que o Ministério da Cultura (MC) e a RTP vão fazer chegar já a partir desta quinta-feira, às 22h, a casa dos portugueses. O TV Fest será transmitido em simultâneo pela Internet (através da plataforma digital RTP Play) como pela televisão (no canal 444), em parceria com todas as operadoras nacionais: Nos, Vodafone, Meo e Nowo. 

A acontecer diariamente durante, pelo menos, um mês, o festival vai acolher actuações de uma centena de músicos portugueses, de diferentes gerações e géneros. No primeiro dia, actuarão Fernando Tordo, Marisa Liz, Ricardo Ribeiro e Rita Guerra, uma escolha de Júlio Isidro, que fará o lançamento e a apresentação do festival.

Caberá a cada um destes quatro músicos escolhidos para o primeiro dia do festival a selecção dos seguintes (sempre quatro em cada programa), numa “cadeia que tem por objectivo, por um lado, espelhar a diversidade do panorama musical português – haverá fado e pop, mas também cante alentejano –, mas também prestar apoio aos técnicos que, com os músicos, têm manifestado uma generosidade incrível”, preenchendo as horas de confinamento dos portugueses, disse ao PÚBLICO, na manhã desta quarta-feira, a ministra da Cultura, Graça Fonseca.

O ministério vai despender um milhão de euros do orçamento da Cultura para esta iniciativa, que será montada com conteúdos inéditos filmados nas casas dos próprios músicos, numa operação cujas gravações se iniciaram já na semana passada.

A cada novo programa (com a duração de hora e meia) e novo dia do festival, o TV Fest acrescentará, no horário antecedente, a gravação do anterior – “assim sucessivamente, até termos 24 horas de música portuguesa em permanência”, acrescenta Graça Fonseca, justificando esta programação com o objectivo de chegar ao maior número de interessados.

“Para muitas pessoas que se viram obrigadas a ficar em casa, a televisão e a Internet são a única forma de se manterem informadas, mas também de terem acesso à cultura. E nunca vivemos um momento em que tivéssemos tanto acesso à cultura a partir do nosso ecrã”, realça a ministra, que apresenta esta nova iniciativa, especificamente dedicada ao sector da música, como resposta aos vários movimentos que, de forma inorgânica e gratuita, a fizeram chegar aos domicílios dos portugueses.

“Este apoio governamental estende-se não só aos músicos, mas também às suas equipas técnicas e agentes, que cada músico é encorajado a identificar publicamente na ficha técnica do programa em que participa”, acrescenta a nota do MC sobre o TV Fest.

Apoios insuficientes?

Confrontada pelo PÚBLICO com os sucessivos apelos a reclamar por um apoio que até agora parece estar longe do necessário para enfrentar a crise provocada pela pandemia de covid-19, Graça Fonseca justifica este amparo ao sector da música como uma resposta essencialmente “focada neste período em que temos de ficar em casa”. “Mas o impacto social e económico da crise é enorme, e é importante olhar para o dia a seguir, preparar o futuro, preparar o primeiro dia em que vamos poder retomar a nossa normalidade, dentro do que for possível”, acrescentou a ministra, remetendo para os próximos dias o anúncio de medidas para outros sectores, como o dos livros e o da comunicação social – temas que certamente estarão também sobre a mesa do próximo conselho de ministros, que se realiza na quinta-feira.

Graça Fonseca lembra igualmente que muitos dos trabalhadores independentes nas áreas da cultura e das artes terão a sua situação coberta com o pacote de medidas que o Governo tem vindo a lançar para a sustentação da economia.

“Alguns países da Europa – e nós fizemos o mesmo em Portugal – incluíram os trabalhadores dos sectores da cultura no pacote de medidas dos governos”, referiu, citando o exemplo do regime de apoio social aos trabalhadores independentes, e das medidas destinadas não apenas a empresas, mas também, transversalmente, a cooperativas e associações. “Os trabalhadores e técnicos das áreas da cultura têm o direito de recorrer a esses apoios, e nós batemo-nos por isso”, reclama Graça Fonseca.

Sobre a Linha de Apoio de Emergência ao Sector das Artes, uma das primeiras medidas a ser lançadas pelo MC, e cujo prazo de candidatura terminou na segunda-feira, a ministra promete um balanço na próxima semana. “Neste momento, não importa tanto saber os números, mas fazer um balanço global, que tem de ser o espelho do impacto que esta crise económica e social tem no sector da cultura”, justifica.

“Vamos trabalhar por partes, teremos de ir dia a dia”, acrescenta Graça Fonseca, poucas horas antes da reunião que, esta tarde, terá com os seus congéneres da União Europeia, onde, disse, irá bater-se pela necessidade de “olhar para as diferentes áreas da cultura e das indústrias criativas como uma ferramenta muito importante para a coesão territorial e o relançamento da economia” na Europa.

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