My Darling Quarantine: o festival que escolhe sete curtas por semana para ver em casa

Festival digital arrancou na segunda-feira e pretende durar “até esta situação chegar ao fim”. A equipa quer angariar fundos para apoiar os Médicos Sem Fronteiras e todas as instituições culturais que atravessam “um período de crise”.

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Espectadores podem votar nas curtas preferidas de cada semana Andre Rodrigues

Na semana passada, o Glasgow Short Film Festival, que decorre desde 2008 na Escócia, anunciou que essa mostra de filmes, que tinha luz verde para arrancar no dia 18 de Março, havia sido adiada para Agosto. Teve, ainda assim, melhor sorte do que o Go Short, em Nijmegen, na Holanda, cuja edição de 2020 foi cancelada. Não vive tempos fáceis a indústria cinematográfica, que, com a propagação do novo coronavírus, tem tido de repensar planos e avaliar maneiras de se manter à superfície, numa altura marcada pela incerteza. Com as salas cautelosamente encerradas e para os cinéfilos não terem de sair de casa, uma equipa de curadores desenvolveu o festival online My Darling Quarantine.

A iniciativa tem a assinatura de Enrico Vannucci, consultor do Festival de Veneza, e conta com o apoio da revista digital Talking Shorts. A ideia, inaugurada esta segunda-feira, passa por, a cada semana, exibir sete curtas-metragens diferentes, cada uma voltada para o tema da “distopia”, na página oficial desta publicação. The Day The Beans Ran Out, do islandês Guðný Rós Þórhallsdóttir, Walking Stick, de Paul Spengemann, ou Hitting My Head On The World, projecto da austríaca Anna Vasof, são algumas das escolhas que fazem parte desta primeira selecção. Antes de a programação ser renovada, as pessoas, de casa, podem votar naquela que foi a sua obra preferida do conjunto. Ao mesmo tempo, têm a possibilidade de fazer donativos: a equipa responsável pelo My Darling Quarantine pretende angariar 20 mil euros para ajudar, por um lado, os Médicos Sem Fronteiras — que “estão a apoiar pessoas espalhadas por todo o mundo que precisam de protecção” para combater o surto de covid-19 — e, também, todas as instituições culturais que estão a “enfrentar um período de crise”.

Alguns dos membros que fazem parte da organização são, de resto, profissionais que, na sequência das várias medidas de contingência impostas em vários países para fazer frente ao novo coronavírus, viram os seus principais e já estabelecidos festivais de curtas-metragens cancelados. É, por exemplo, o caso de Emilia Mazik, do Short Waves, na Polónia, que, assim como o Glasgow Short Film Festival, só poderá fazer a festa em Agosto. Adiar o evento foi, adianta a directora artística da mostra, “uma das decisões mais complicadas que alguma vez tive de fazer”. Decisão essa que vai ter “consequências financeiras e estruturais” significativas. Com o My Darling Quarantine, continua, “quisemos mostrar como a indústria cinematográfica consegue manter-se unida em tempos de crise, oferecendo entretenimento a pessoas em todos os cantos do mundo que estão presas em casa”.

Para além dos curadores destes festivais que tiveram de, ainda este ano ou já no próximo, encontrar novas datas no calendário, colaboradores dos festivais de Berlim ou Locarno, por exemplo, também ajudaram a desenhar o programa do My Darling Quarantine. A iniciativa, que deseja “espalhar o amor pelas curtas muito mais rapidamente do que qualquer vírus”, está neste momento na sua primeira semana, e quer estender-se “até esta situação chegar ao fim”.

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