Senhor primeiro-ministro, recomendo que se reúna com os grandes da saúde

A ministra da Saúde não é na hierarquia a autoridade competente.

A batalha que a ministra da Saúde iniciou sem ser autoridade nacional de Saúde Pública e que, tardiamente, envolveu o primeiro-ministro, devido ao soundbyte saído da entrevista da diretora-geral de Saúde a um semanário, descontextualizado que foi a estimativa de “um milhão de infetados”, abateu o nosso paraíso. O céu começou a sua queda vertiginosa sobre nós e vai desmanchar a Terra, transformando o paraíso num inferno.

Eles não sabem nem sonham medir crises epidemiológicas e tomam-nas como a gestão de mercearias hospitalares e pensam que a Direcção-Geral de Saúde, que não é a ministra, está contra os portugueses. Aplaudo Graça Freitas, uma simples comunicadora em saúde, sempre presente nos seminários na faculdade de Medicina de Lisboa.

Ser vertical ou não ter coluna vertebral determina a diferença. Fausto Pinto, diretor da faculdade de medicina de Lisboa, conhecido diplomata na saúde, escreveu neste jornal: “Senhor primeiro-ministro, feche o país, pela sua e pela nossa saúde”. Francisco Antunes grande infeciologista e professor de centenas de discípulos médicos, desdobra-se na sua idade e sabedoria em esclarecimentos com simplicidade. O povo português é pouco letrado em saúde e a culpa é do Estado. Não se previne, nunca. “...Ter medo é justamente o que o medo quer”, escreveu O’Neill.

E esse medo assola alguns políticos, atropelando-os em momentos de glória e briefings assustadores. Escrevi no PÚBLICO: “Este ministério não sabe comunicar em saúde pública”. Utilizam o poder de disseminação das redes sociais para encriptar algumas vozes que querem domesticar, numa espécie de esmagamento da liberdade de expressão e aniquilação do pensamento crítico que não se subordina à vossa ineficácia.

Já deveriam ter sido fechadas as fronteiras. A ganância e o medo das consequências políticas falaram mais alto. Nunca seremos tão bons como os Centers for Disease Control and Prevention em Atlanta. Quando visitei esta instalação que exige visto especial, vi o que era trabalhar a crise em saúde pública, envolvendo todas as especialidades. Sabemos mais que todos? Não!

Senhor primeiro-ministro, recomendo que se reúna com os grandes da saúde, infeciologistas, militares, diretores de escolas de medicina e com Graça Freitas. É ela a autoridade de Saúde Pública, com um vasto currículo que, aliás, acompanhou em Macau a experiência da Gripe das Aves. A ministra não é na hierarquia a autoridade competente, permita-me. É que, desta vez, ficaremos sem penas. Dos políticos e gestores. Os vulneráveis precisam de nós. São as farmácias e os farmacêuticos maltratados que ajudam os mais velhinhos. E os médicos, sempre crucificados, que se entregam de corpo e alma, para salvar vidas e sem condições. Fale-me de sonhos. Porque vamos viver um pesadelo.

Nenhuma crise é igual, mas devemos tirar lições. A gripe pneumónica ou espanhola dizimou dezenas de milhares de vidas há 101 anos. Tratou-se da maior pandemia mundial conhecida, causando mais mortes (considerando as estatísticas comparativas de densidade populacional) que a peste negra, em diferentes séculos, ou a I Grande Guerra.

A evidência científica aponta para a morte de 50 a 100 milhões de pessoas no mundo, como resultado da pandemia da gripe que durou 2 anos e lavrou 2 continentes. Fiz a minha parte, informando a ministra da Saúde: é importante mobilizar os especialistas que apoiem grupos vulneráveis Restam-nos os pobres e indefesos, e os mais crescidos com muita idade. Os portugueses, apesar de inúmeros alertas de especialistas, não estão munidos de uma cultura de comunicação de crise. Verificamos com a alarvidade das idas aos supermercados. Eles não têm internet ou teletrabalho e menos telesaúde. Eu assisto e ajudo em silêncio. Pense nisso. Pela vida dos portugueses e imigrantes ou residentes: #somosmaisunidospelasaúde

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