As irmãs são o melhor da vida

Gomos da mesma tangerina, somos inseparáveis para o bem e para o mal, na saúde e na doença, na vida e muito para além da morte que a morte não separa tudo, que a morte não separa todos e morte não é o fim, é apenas mais um passo, apenas mais um salto de mãos dadas.

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Becca Tapert/Unsplash

As irmãs não param, estão sempre a rir, a falar, a mexer, a brincar apenas porque sim, porque estão juntas e presentes e a felicidade não podia ser mais simples.

Gomos da mesma tangerina, somos inseparáveis para o bem e para o mal, na saúde e na doença, na vida e muito para além da morte que a morte não separa tudo, que a morte não separa todos e morte não é o fim, é apenas mais um passo, apenas mais um salto de mãos dadas.

Frenéticas, crescem connosco e não nos deixam em paz, estão sempre a bater à porta do quarto ou então nem sequer batem, entram logo de rompante, a porta escancarada como as gargalhadas, escancaradas de par em par. A casa também é delas, ou então nunca foi nossa, e levam-me os brinquedos, o riso, levam-me as palavras, o vento e o ar que sustém o peito, levam tudo e dão tudo, dão amor.

Estão logo ali, ali ao lado, no outro quarto, basta abrir a porta, sempre disponíveis, prontas para ouvir, nem que seja só ouvir, a meio da noite mais longa depois do pesadelo mais fundo, prontas para falar e sossegar, que mesmo que não as ouça sabe bem estar juntos. E adormecer. São a mãe quando a mãe não está.

Partilham as nossas alegrias e tristezas e eu as delas, todos por um e um por todos, são as melhores amigas que podemos ter e conhecem-nos melhor do que ninguém apesar dos anos e da distância, apesar da saudade.

Pelas irmãs atiramo-nos ao fogo. Não sabemos porquê mas atiramo-nos, ou melhor, sabemos muito bem porquê, porque são as nossas irmãs e mais não é preciso dizer. Nem sequer pensamos, são as nossas irmãs, o nosso corpo e o nosso sangue, parte de nós, nasceram connosco, morrerão connosco e nós com elas.

São capazes do melhor e do pior, mas serão sempre as nossas irmãs e às irmãs perdoa-se tudo.

Vivemos juntos sem nunca pensar no dia de partir e talvez por isso não nos cansamos de voltar. Como um íman, não deixamos de sentir esta atracção, este pólo magnético, este norte, e nunca nos esquecemos do caminho de casa. Mesmo se os pais já cá não estão. Aprendemos a viver sem os pais, nunca aprendemos a viver sem as irmãs.

Inevitavelmente, seguimo-las para onde quer que vão, para onde a vida as leva, e prometemos nunca mais partir. Até partir, também eu para uma casa que não é a nossa e até um dia destes.

Só tenho irmãs. Sou o mais velho. Não pedi que viessem e pedi. Não podia viver sem elas. Sem as minhas irmãs. E, não obstante, a vida disparou-nos para os confins da galáxia como asteróides após a formação do sol. Fez-se luz e aqui fomos nós. Até ao fim da vida voltaremos a estar todos juntos uma mão cheia de vezes.

Até lá, não me cansarei de voltar a casa, pode ser que as encontre de almofada em punho por detrás da porta.
 

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