Prontidão nos esforços de resposta para controlar a doença do coronavírus

Medidas preventivas e estado de prontidão são fundamentais nesta fase para evitar que unidades de cuidados de saúde contribuam para a propagação da doença.

Apesar de o número de casos reportados fora da China ser relativamente baixo, os preparativos para conseguir limitar uma maior propagação do Sars-Cov-2 – o vírus que causa a doença do coronavírus (Covid-19) – são cruciais.

Por todo o Sudeste Asiático, estão a ser avaliadas as formas como a Médicos Sem Fronteiras (MSF) pode prestar apoio para que as autoridades de saúde e as unidades médicas locais se preparem para potenciais surtos do Covid-19. O nosso enfoque centra-se na vulnerabilidade dos pacientes e em medidas simples de controlo, que podem fazer uma enorme diferença.

Nos países em que a MSF tem operações, a situação de vulnerabilidade dos nossos pacientes reveste-se de particular preocupação.

É importante ter em mente que oito em cada dez pessoas infetadas com o coronavírus apenas enfrentam um quadro clínico moderado ou talvez até nem se apercebam da doença. Mas para pacientes que já têm os sistemas imunológicos enfraquecidos é muito mais provável que fiquem acrescidamente vulneráveis a uma evolução grave do coronavírus.

Estamos, assim, já a falar com os nossos pacientes, como as pessoas com hepatice C que tratamos no Camboja, sobre quais os sintomas a ter em atenção, de forma a lhes providenciarmos informação correta e, em simultâneo, ajudarmos a aliviar-lhes os receios.

Medidas simples de controlo fazem uma diferença enorme

É de frisar que países com rendimentos baixos ou médios, como o Camboja ou o Laos, possuem sistemas de saúde com recursos muito limitados. Estes países debatem-se para prestar serviços de saúde às populações até mesmo sem a ameaça de um surto de Covid-19. Se uma grande epidemia ocorrer em tais contextos, os sistemas de saúde desses países entrarão em colapso.

Medidas preventivas e estado de prontidão são fundamentais nesta fase para evitar que unidades de cuidados de saúde contribuam para a propagação da doença.

O que vi no Sudeste Asiático foi que até mecanismos simples de controlo da doença não estão ainda ativos. A MSF tem vindo a avaliar as capacidades existentes nestes países e pode providenciar apoio para que desenvolvam o seu estado de prontidão e poder de resposta.

O passo mais importante é o de identificar e separar os casos suspeitos de coronavírus de outros pacientes que chegam aos hospitais ou a qualquer outra unidade de saúde. Isto faz-se criando um ponto de entrada onde seja possível perguntar às pessoas se apresentam ou não os sintomas da doença – se essa confirmação for dada, estes pacientes devem ser conduzidos a um espaço separado e dedicado onde se procede aos testes e subsequente tratamento nos casos em que se confirme a infeção.

Mesmo tratando-se de uma medida tão simples, o facto de não ter sido ativada demonstra com clareza que tais sistemas de saúde precisam de apoio.

Observei também, numa conferência em que se reuniram todos os profissionais de um hospital para treino nestas medidas preventivas, que temos de trabalhar com as autoridades locais de saúde para concretizar planos de capacitação e pôr em marcha medidas específicas de controlo da doença nas unidades médicas.

Há muito por fazer e temos de aproveitar eficazmente todos os minutos para fortalecer a prontidão de resposta no combate a um surto. Tenho expetativa de que nos países onde se registam menos casos, o vírus Sars-Cov-2 possa ser rapidamente contido. E, ao mesmo tempo, espero que consigamos ajudar outros países a preparem-se suficientemente antes que o vírus os alcance.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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