Alemanha: CDU e liberais aliam-se à AfD para eleger chefe de governo da Turíngia

Os democratas-cristãos e os liberais votaram ao lado da Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, para eleger Thomas Kemmerich chefe do governo do estado do Leste da Alemanha. Fala-se em “dia triste para a democracia” e de “nefasta irresponsabilidade”.

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Thomas Kemmerich é o novo chefe de governo do estado alemão da Turíngia Hannibal Hanschke/REUTERS

O cordão sanitário que impedia o partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) de participar nas grandes decisões políticas foi rompido esta quarta-feira. A CDU e os liberais do FDP votaram elegeram Thomas Kemmerich, dos liberais, chefe do governo da Turíngia, no Leste da Alemanha, e impedir a reeleição de Bodo Ramelow, do Die Linke. 

O partido de esquerda radical venceu as eleições regionais de Outubro, mas não tinha deputados suficientes para formar governo, mesmo com o apoio das bancadas dos sociais-democratas e dos Verdes. O Die Linke passou meses a tentar formar governo e, esta quarta-feira, os democratas-cristãos e os liberais aliaram-se à extrema-direita para eleger Thomas Kemmerich, cujo partido teve apenas 5% dos votos. A votação, secreta, foi tão renhida que um mero voto fez toda a diferença: 45 contra 44. 

Foi a primeira vez que a AfD desempenhou um papel fundamental na votação de um executivo regional e cria um precedente que poderá ter efeitos nacionais. É que a aliança aconteceu com a ala mais radical do partido, liderada pelo fascista Bjorn Höcke, centrada na Turíngia (teve 23% dos votos) e que está sob vigilância das secretas alemãs por extremismo.

Criada em 2013 como partido contra os resgates financeiros na UE, a AfD transformou-se numa formação de extrema-direita, islamofóbica e xenófoba, aliando-se ao sector de extrema-direita identitário alemão. E, nas legislativas federais de 2017, entrou pela primeira vez no Bundestag ao eleger 94 deputados (houve demissões e hoje tem 89). Tornou-se na terceira força política nacional e líder da oposição, o que lhe deu destaque e privilégios parlamentares na interpelação ao Governo de coligação CDU/CSU e SPD. 

Em resposta, houve um acordo informal entre as principais forças políticas para isolar, criar um cordão sanitário, em torno dos radicais de direita, para evitar a sua legitimação, à semelhança do que todos os partidos da Suécia fazem há anos com os Democratas Suecos. E estava a ser respeitado, até agora.

“Deixar que extremistas de direita o elejam como primeiro-ministro é completamente irresponsável. Todos os democratas devem permanecer juntos contra a AfD. Quem não entende isso não aprendeu nada com a nossa História”, reagiu no Twitter Heiko Maas, ministro dos Negócios Estrangeiros e social-democrata alemão, dirigindo-se a Kemmerich. 

O grupo parlamentar dos Verdes no Bundestag mostrou-se “horrorizado” pela “nefasta irresponsabilidade” da CDU e dos liberais e exigiu a “demissão imediata” de Kemmerich. Já o co-líder do Die Linke Bernd Riexinger falou no “romper do cordão sanitário” e num “dia triste para a democracia”. “O FDP e a CDU tornaram-se num apoio para o partido de direita radical AfD”, escreveu no Twitter Riexinger, preconizando novas eleições regionais por Kemmerich não ter nem “programa nem governo”. 

A polémica está instalada e nem mesmo dentro dos liberais há uma posição unânime de apoio a Kemmerich, o que poderá dar azo a uma crise interna. “Aprecio pessoalmente Thomas Kemmerich. Entendo o desejo de ser chefe de governo. Mas ser apoiado por alguém como Höcke é inaceitável e insuportável entre democratas. É, portanto, um mau dia para mim como liberal”, escreveu no Twitter Marie-Agnes Strack-Zimmermann, deputada federal do FDP, enquanto o vice-presidente do partido, Wolfgang Kubicki, viu a eleição de Kemmerich como um grande sucesso. 

Quem, por óbvias razões, sente que foi um momento fundamental na afirmação do AfD foi um dos fundadores e antigo co-líder Alexander Gauland. “Excluir a AfD já não é uma opção”, disse o deputado, conhecido por desvalorizar o período da Alemanha nazi na História do país. Por sua vez, Alexander Mitsh, da linha dura da CDU, deixou claro que o seu partido pode ser “bem-sucedido sem o SPD e os Verdes”. 

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