Nova habitação pública de Lisboa está a cargo de 20 arquitectos

Empresa municipal SRU criou uma bolsa para novos projectos e criou um algoritmo que facilita a vida aos projectistas. O objectivo é tornar a contratação pública mais rápida.

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Entrecampos é a primeira zona onde o estudo da casa-modelo vai ser aplicado daniel rocha

As casas novas que a Câmara de Lisboa construir para o seu Programa de Renda Acessível (PRA) vão ser todas projectadas por 20 ateliês de arquitectura escolhidos pela empresa municipal Sociedade de Reabilitação Urbana Lisboa Ocidental (SRU).

A SRU, liderada pelo ex-vereador do Urbanismo Manuel Salgado há ano e meio, foi incumbida pela câmara de levar por diante a construção e reabilitação de creches, escolas, centros de saúde e casas novas em Lisboa. Para “responder a esta situação de emergência habitacional” e ter “resultados mais rápidos”, explica Inês Ucha, vogal da empresa, a SRU decidiu fazer acordos-quadro com arquitectos, empresas de prospecção geológica e empresas de fiscalização de obras.

Na prática, a empresa criou uma bolsa permanente à qual recorre sempre que lança uma nova empreitada. “A nossa encomenda por parte da câmara é construção nova. Mas o caminho desde o início foi este: ir ao mercado buscar projectos”, diz Inês Ucha, referindo que a SRU não tem capacidade interna para dar resposta às solicitações.

O acordo-quadro para elaboração e revisão de projectos de arquitectura de habitação foi o primeiro a avançar. Foram escolhidos, por concurso público, 20 ateliês para elaboração de projectos e 13 para a sua revisão. Os critérios de escolha foram o preço/hora cobrado (a base era 60 euros) e a experiência dos técnicos envolvidos.

“O conjunto de equipas que resultou do acordo-quadro foi bastante interessante e heterogéneo”, congratula-se Inês Ucha. Entre os 20 ateliês escolhidos para elaboração de projectos estão Carrilho da Graça, Inês Lobo, Gonçalo Byrne, Ricardo Bak Gordon, Atelier do Chiado, Cândido Chuva Gomes, Pedro Matos Gameiro, Focus Group, Site Specific, Tecnoplano ou Campos Costa.

De cada vez que lança uma empreitada nova, a SRU faz um convite a este grupo e depois escolhe o projecto. “Cada projectista não pode ter em execução mais do que dois projectos ao mesmo tempo”, esclarece a administradora da empresa.

A SRU optou por este método porque “uma parte importante do ciclo de vida de uma empreitada é a contratação pública”, continua Inês Ucha, mas decidiu ir ainda mais longe na agilização de processos. Criou uma espécie de casa-modelo e um algoritmo que define automaticamente o número de fogos que cada edifício pode ter.

“Conseguimos definir critérios de qualidade e qual o custo”, explica Susana Rato, arquitecta da SRU. “Percebemos que o que era importante era definir frentes de luz.” A partir daí foram definidas unidades mínimas, as células, que individualmente ou conjugadas com outras dão origem a casas. No algoritmo inserem-se os vários parâmetros relativos a um lote – área, altura máxima permitida, etc. – e de lá sai o número de fogos que cada piso ou edifício pode ter e inclusivamente uma planta inicial.

Esta informação é depois fornecida aos arquitectos da bolsa. “Isto permite que eles se dediquem exclusivamente ao desenho sem se estarem a preocupar com os nossos rácios”, comenta Susana Rato. “Está a ser muitíssimo bem aceite pelos arquitectos que seleccionámos”, acrescenta Inês Ucha.

Susana Rato gostou tanto de criar esta casa-modelo que a SRU decidiu fazer o projecto para um dos blocos de renda acessível em Entrecampos, cujo concurso público de construção foi já lançado. Este deverá ser, no entanto, caso único.

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