Tudo começou com latas e hoje são as artes que soltam estas crianças autistas

Projecto nascido no agrupamento de escolas da Murtosa trabalha a veia artística de uns quantos “Miúdos Especiais Com Muita Lata”. Este domingo inauguraram uma exposição.

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Adriano Miranda
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“Olá. Sou a Joana e também sou artista”. É ela própria quem se apresenta, sem embaraço, fazendo questão de nos mostrar as suas pinturas. As já terminadas e as que está prestes a iniciar. Com o lápis, dá forma à cara de um palhaço. Com o pincel e as tintas, enche-a de cor. Joana tem 10 anos e é uma das 13 crianças e adolescentes com autismo envolvidas no “Miúdos Especiais Com Muita Lata”, um projecto que usa a arte como ferramenta para o desenvolvimento de competências específicas dos alunos com Perturbação do Espectro de Autismo e que tem marcado a diferença na vida destas crianças e respectivos pais.

“Sinto que é através das artes que eles conseguem pôr tudo cá para fora, que se exprimem mais”, testemunha Margarida Valente, a monitora que, duas vezes por semana, trabalha a veia artística dos “miúdos especiais” do Centro de Apoio à Aprendizagem – Valência de Autismo, do agrupamento de escolas da Murtosa. Margarida está ali desde a primeira hora, em 2015, e nunca mais se conseguiu desligar do projecto. “É tão gratificante ver a evolução deles. Alguns começaram por só desenhar a mão e agora já fazem pinturas fantásticas”, acrescenta.

São autênticos artistas, com direito a mostrar os seus trabalhos ao público. Em Dezembro, deram a conhecer a sua arte em Estarreja e, este domingo inauguraram uma exposição na COMUR – Museu Municipal da Murtosa (a mostra ficará patente até 26 de Fevereiro). “Eles sentem-se muito bem ao ver os seus trabalhos expostos, reconhecidos pelo público, aumenta-lhes a auto-estima”, avalia a monitora.

Desde que as artes começaram a tomar conta de uma das salas do Centro Escolar da Saldida, na Murtosa, as professoras Celeste Barroqueiro Dias, Mónica Pinho e Adriana Pires, também reparam que os “seus” artistas ficaram “mais concentrados, mais calmos” e, acima de tudo, “mais felizes e a sentirem-se valorizados”. É verdade que esta não é a única actividade à qual os alunos do Centro de Apoio à Aprendizagem – Valência de Autismo se vão dedicando (também fazem desporto, hipoterapia e yoga), mas é, sem sombra de dúvida, a mais especial de todas.

Tudo começou nas latas de conserva

A história deste projecto tem origem numa parceria com uma empresa daquele concelho, a conserveira Comur, no contexto de um trabalho escolar. “Os meninos decoraram o envoltório das latas de conserva e foi um sucesso enorme”, recorda Carla Vigário, presidente da associação Miúdos Especiais com Muita Lata. Perante a resposta positiva da comunidade e do público em geral, os pais e professores decidiram continuar a trabalhar para concretizar um sonho: criar uma sala de estimulação multissensorial  “Snoezelen”. “E conseguimos, está a funcionar aqui na escola mas está aberta a outras instituições locais”, acrescenta Carla Vigário.

A dirigente associativa também consegue falar na primeira pessoa sobre os resultados deste projecto no desenvolvimento das crianças e adolescentes autistas. Carla Vigário é mãe da Joana, “uma criança muito alegre”, que “adora esta actividade” e o facto de os seus “trabalhos serem, depois, divulgados”. Um exemplo que a leva a alertar para a necessidade de as empresas continuarem a associar-se a este projecto, sempre de uma forma especial. “O nosso objectivo não passa por receber donativos. O que pretendemos é ajuda para divulgar o trabalho deles, nomeadamente, em rótulos de artigos”, argumenta.

A criatividade dos “Miúdos Especiais Com Muita Lata” já deu lugar a uma colecção de canecas da Costa Verde e a frascos de mel da Beesweet, para além das latas da Comur – que ajudaram a dar nome ao projecto e à associação. Também já fizeram uma colecção de calendários, com pinturas capazes de fazer inveja a alguns alguns pintores de renome. “Inspirados nos grandes pintores, eles fizeram interpretações de obras como a bailarina de Degas e a Mona Lisa, de Da Vinci”, repara a monitora de artes, a propósito daquela que foi uma amostra do trabalho destes “miúdos especiais”. A partir deste domingo, é possível ficar a conhecer muito mais.

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