O que dizem os antigos adversários sobre o Presidente dos afectos?

De Presidente de “largo espectro”, a “anestesista da nação”. Eis o que diz, quatro anos depois, quem concorreu contra Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2016.

,Maria de Belém Roseira
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Presidente da República Miguel Manso
Executivo de negócios
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Marcelo com os seus adversários Enric Vives-Rubio

Eleito a 24 de Janeiro de 2016, com 52% dos votos, Marcelo Rebelo de Sousa parte agora para a recta final do seu mandato. Que balanço fazem os antigos adversários políticos e ex-candidatos às presidenciais dos primeiros quatro anos de Marcelo em Belém? ​

Edgar Silva: “mediatização” a pensar na “reeleição"

Para o comunista madeirense Edgar Silva, Marcelo Rebelo de Sousa tem feito um mandato marcado pela “mediatização”, visando a reeleição. Ainda assim, reconhece mérito à sua “postura de diálogo”. Apesar de ter deixado de ter a sua presença semanal na televisão, tem conseguido “usar todos os meios ao seu dispor” para desenvolver uma “estratégia de auto-promoção, num outro registo, outro prolongamento ainda mais forte do que o que tinha tido no tempo da campanha eleitoral”, argumentou Edgar Silva, para “promover condições favoráveis à sua aclamação”.

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Edgar Silva, PCP Madeira

Edgar Silva faz “um balanço positivo” da política de proximidade implementada pelo Presidente da República e “da sua postura de diálogo”. Sustenta ser “particularmente negativa” a avaliação ao “exercício de competências atribuídas pela Constituição da República em matéria de competências nas relações internacionais”. Para o comunista, Marcelo Rebelo de Sousa revelou uma “subserviência continuada aos ditames da NATO e dos EUA, com um conjunto de compromissos a que esteve e está directamente associado, que não dão cumprimento a essa incumbência de fazer a paz”.

Maria de Belém: “Presidente de largo espectro"

Maria de Belém Roseira elogia o primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, classificando-o “um Presidente de largo espectro”, e considera que a sua recandidatura seria muito importante para o país. “Consegue aproximar-se das camadas da população com mais problemas, com mais dificuldades, com mais necessidade de um presidente que se interesse por elas, mas também consegue chegar às camadas mais elevadas da população.”

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Maria de Belém

“Quando temos um presidente muito próximo, corre-se o risco de as pessoas pensarem que pode ser um “tu cá tu lá”. O Presidente é realmente próximo, mas representa a instituição Presidência da República e os portugueses devem valorizar isso”, defendeu. Sobre de quem é a responsabilidade dessa proximidade, a antiga deputada não concretizou: “Às vezes, nas reportagens que a pessoa vê, pode-se entrar num excessivo grau de familiaridade que as pessoas não devem adoptar”, referiu.

Ao contrário de Edgar Silva, Maria de Belém elogia o papel de Marcelo Rebelo de Sousa “no aprofundamento da relação com os países de expressão portuguesa”.

Paulo Morais: “Supremo anestesista da nação"

O balanço de Paulo Morais é negativo. O economista diz estar a analisar se “há condições para fazer uma candidatura séria” em 2021, apesar de considerar que “é prematuro”. Um Presidente da República “não é um comentador desportivo” e que a sua presença “é importante mas há muitos locais em que deve estar calado”. Para o antigo candidato, em vez de Marcelo ser “o supremo magistrado da nação, passa a ser o supremo anestesista da nação, porque anestesia a sociedade e mesmo quando as situações são muito graves o Presidente trata-as como se fossem banais”, considera.

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Paulo Morais

O “maior erro” de Marcelo ao longo dos últimos quatro anos foi o afastamento da ex-Procuradora Geral da República. “Em política o que parece é” e o que pareceu, na opinião do economista, foi que “desviaram Joana Marques Vidal do cargo”, para de alguma maneira manter a impunidade que existe nestes crimes maiores de “colarinho branco” sobre os quais, aliás, Marcelo não se pronuncia”, acrescentou.

Vitorino Silva: “Tem domesticado António Costa"

Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, apelou aos políticos portugueses para avançarem com candidaturas para enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa nas próximas eleições presidenciais, considerando que o actual Presidente “tudo fez para ir a votos sozinho”. E deixa um apelo: “Chegou a altura de uma pessoa estar em alerta. O que eu queria, em nome da democracia, é que o Marcelo tivesse candidatos” adversários, disse à Lusa Vitorino Silva, acrescentando que “para dançar o tango são precisos dois”.

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Vitorino Silva

O dirigente do RIR sustentou que o Presidente “tem domesticado António Costa para que o PS não apresente ninguém” e também André Ventura. Para Vitorino Silva, os políticos devem evitar que Marcelo ganhe por “falta de comparência” dos adversários. “Mal seria se num país como Portugal” só houvesse um candidato, sublinhou.

Tino de Rans entende que o mandato foi, até agora, “próximo do povo”, mas quando o Presidente chegou “aos temas quentes”, como Tancos ou a situação dos bancos portugueses, “tirou as mãos” e “podia ter feito mais”. “A grande bandeira de Marcelo é que conseguiu ser povo”, concluiu.

Marisa Matias: Ligou o “Palácio de Belém ao país"

Marisa Matias considera que Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído para o clima de paz social vivido em Portugal, elogiando a influência no combate à pobreza, mas criticando a falta de atenção às alterações climáticas. A ex-candidata, que ficou em terceiro lugar, com 10% dos votos, diz que Marcelo “teve a vantagem de voltar a ligar o Palácio de Belém ao país, que estava bastante afastado”, apesar de “em alguns casos, provavelmente, o ter feito até de forma excessiva”.

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Marisa Matias

“Mas creio que o clima de alguma paz social que temos vivido nos últimos anos em Portugal também se deve, em certa medida, à actuação do Presidente da República. Obviamente não partilho tudo o que tem sido a acção do Presidente, mas creio que genericamente ele tem contribuído também para esse clima que vivemos em Portugal”, elogia.

Nota negativa da eurodeputada bloquista leva Marcelo em “matéria de relações internacionais, pela naturalização de Bolsonaro, ou de Trump ou de Netanyahu”.