Cabelte pediu protecção judicial para negociar “de forma tranquila e serena”

Crédito a antigo administrador – que requereu a insolvência da empresa – já foi pago. Agora é a própria Cabelte a requerer um Plano Especial de Recuperação (PER) para negociar dívidas de 173,1 milhões.

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A Cabelte, empresa de cabos com mais de 600 trabalhadores, está desde a passada quarta-feira ao abrigo do Plano Especial de Recuperação (PER), depois de a administração liderada por Mário Pais de Sousa ter invocado dificuldades financeiras e apontado as instituições bancárias BCP e Novo Banco como principais credores. O Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia nomeou já um administrador judicial para assumir as rédeas da empresa, isto na véspera da ida a julgamento de um pedido de insolvência efectuado pelo antigo presidente do conselho de administração da Cabelte – Tiago Neiva de Oliveira, neto do fundador da empresa, Nelson Quintas, e afastado do cargo após a entrada do fundo de reestruturação OxyCcapital.

Como o PÚBLICO noticiou, o antigo presidente da empresa requereu a insolvência da Cabelte com base num crédito de perto de 200 mil euros – crédito esse que a Cabelte começou por negar a existência. Mas, confirmou o PÚBLICO, a actual administração da Cabelte acabou por liquidar essa dívida, tentando, com isso, pôr fim ao processo de insolvência. No entanto, Neiva de Oliveira avançou com um requerimento pela condenação da Cabelte “como litigante de má-fé”, por ter agido de forma contrária aquilo que alegou, isto é, “uma actuação processualmente condenável baseada na negação de factos verdadeiros e por ela conhecidos”, disse o ex-administrador ao PÚBLICO.

Porém, na véspera do julgamento marcado para esta quinta-feira, a Cabelte veio informar que tinha requerido um Processo Especial de Revitalização e que, por essa razão, o processo de insolvência deveria ficar sem efeito. O despacho de admissão do PER foi publicado no dia 8 de Janeiro, nomeando Bruno Costa Pereira como administrador judicial.

Em declarações ao PÚBLICO, Bruno Costa Pereira confirma que a Cabelte pediu esta protecção judicial para poder negociar “de forma tranquila e serena” a componente de dívida que tem no seu balanço. “Quando uma empresa interpõe um PER desta forma, consciente, é porque sabe que face à sua realidade, e num futuro próximo, se veria na possibilidade de incumprir as suas obrigações. Por isso, antecipa-se, pede esta protecção judicial e procura negociar com os seus credores a reestruturação da sua componente de dívida, para impedir que acabe prejudicada a própria operação”, afirma o administrador judicial. 

De acordo com o administrador judicial, a dimensão do passivo que consta do processo ronda os 173 milhões de euros e a mais expressiva fatia de créditos está nas mãos do próprio dono - o Fundo de Reestruturação Empresarial gerido pela OxyCapital. “O próprio accionista é o principal credor, quer pela aquisição de dívidas a credores que fez no passado, quer por aportações que fez depois para a empresa continuar a funcionar”, explica Bruno Costa Pereira. Os principais credores financeiros são o Millenium BCP e o Novo Banco. “Na verdade, estes três credores representam entre 80% a 90% dos créditos apontados pela empresa, e são estes os mais importantes, que depois do prazo para reclamação de créditos vão  votar a reestruturação que vai ser negociada”, terminou. A restante dívida, diz Costa Pereira, está pulverizada por pequenos fornecedores.

De acordo com o Jornal de Negócios, que já teve acesso à petição do pedido de reestruturação, a Cabelte apresenta uma lista de 700 credores e um montante de dívidas de 173,1 milhões de euros. O principal credor é a própria OxyCapital, com 114,6 milhões de euros em dívidas, seguindo-se o Novo Banco (9,9 milhões de euros) e o BCP (7,9 milhões de euros). As instituições públicas que prestaram apoios financeiros à empresa, nomeadamente o Portugal 2020 (3,5 milhões de euros) e o IAPMEI (94 mil euros), também aparecem listadas no rol de credores. 

Depois do dia 28 de Fevereiro, e findo o prazo de reclamação de créditos, ficam definidos os credores que terão direito de voto e deliberar a aprovação, ou não, do plano de reestruturação que a Cabelte irá negociar com os seus credores. O processo poderá ficar concluído apenas em Maio. 

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