Irão ataca alvos norte-americanos no Iraque com “mísseis balísticos”

Ainda não é claro se o ataque provocou vítimas, mas Trump garantiu no Twitter que “está tudo bem”. Washington confirma que os mísseis foram disparados a partir de território iraniano.

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Imagem de arquivo da base aérea de al-Asad, no Iraque Thaier Al-Sudani/REUTERS

Duas bases iraquianas onde estão posicionadas forças norte-americanas — a de al-Asad, a noroeste de Bagdad, e outra em Erbil, no Curdistão iraquiano — foram atingidas por “mais de uma dezena de mísseis balísticos” disparados a partir do Irão, esta madrugada de quarta-feira (ainda terça-feira em Portugal continental), confirmou o Pentágono.

Será o início da retaliação iraniana à morte do general Qassem Soleimani, com a televisão estatal Press TV a noticiar que a Guarda Revolucionária reivindicou o ataque e que advertiu os Estados Unidos e os seus aliados na região para não reagirem a esta acção militar.

“Advertimos todos os aliados dos americanos, que disponibilizaram as suas bases a este exército terrorista, que será atacado qualquer território que constitua um ponto de partida de actos agressivos contra o Irão”, referiu a Guarda Revolucionária num comunicado divulgado pela agência oficial iraniana IRNA, e que também visa Israel.

E, numa cerimónia em Qom para relembrar os manifestantes mortos num massacre às mãos das forças de segurança do xá Reza Pahlavi, em 1978, o líder supremo iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, disse que o ataque de mísseis balísticos foi uma “estalo” nos norte-americanos. “Apenas lhes demos um estalo na cara na noite passada. Estas acções militares não satisfazem. O importante é acabar com a presença norte-americana” no Médio Oriente, disse.

Segundo a Reuters, ainda não é claro se a ofensiva desta noite causou vítimas. “Estamos a trabalhar no balanço inicial dos danos de batalha. Tomaremos todas as medidas necessárias para proteger e defender os militares norte-americanos e os seus parceiros e aliados na região”, afirma fonte oficial do Pentágono.

Entretanto, Donald Trump reagiu no Twitter: “Está tudo bem! Foram lançados mísseis do Irão contra duas bases militares localizadas no Iraque. Está a decorrer a avaliação das vítimas e danos ocorridos até agora. Por enquanto, tudo bem! Temos, de longe, as mais poderosas e bem, equipadas forças armadas do mundo! Farei uma declaração amanhã de manhã”.

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Havia fontes a avançar que a intenção do presidente dos EUA era fazer uma declaração ao país ainda ontem, mas adiou essa comunicação para esta quarta-feira. O Presidente iraniano, Hassan Rohani, também falará esta quarta-feira aos iranianos.

A televisão estatal iraniana contesta que não tenha havido vítimas ao dizer que “80 terroristas norte-americanos” foram mortos (o Irão classificou entretanto as forças armadas dos EUA como terroristas) e que helicópteros e outro equipamento militar norte-americanos ficaram “severamente danificados”. A televisão iraniana citou um elemento dos Guardas da Revolução, com este a dizer que o Irão tinha definidos mais 100 alvos na região e que os iria atacar caso Washington retaliasse.

O ataque desta madrugada acontece dias depois do assassínio do general iraniano, morto na sexta-feira num ataque aéreo ordenado por Trump em Bagdad. No seguimento da morte de Soleimani, o Irão tinha já prometido retaliar.

A base de al-Asad, atacada esta noite, tinha sido visitada de surpresa por Donald Trump no final de 2018.

Reacções

O mundo está com os olhos postos na tensão entre Washington e Teerão e as reacções ao disparo dos mísseis não se fizeram esperar. Garantias de nenhum soldado ter sido ferido, condenações e apelos à calma e ao diálogo perfazem a maioria das reacções, mas há quem já esteja a prever o pior, e a tomar medidas.

As Filipinas ordenaram a “saída obrigatória” dos seus nacionais a trabalhar no Iraque e um navio da guarda costeira filipina dirige-se para Omã e Dubai para ajudar na repatriação. “O nível de alerta em todo o Iraque foi aumentado para o nível 4, para saída obrigatória”, anunciou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros filipinos, Eduardo Mendez.

“Os filipinos a trabalhar no estrangeiro serão levados para portos seguros, onde serão deslocados de avião, conforme as necessidades”, disse a guarda costeira filipina em comunicado, citado pela Al-Jazeera.

A companhia aérea Emirates Airline, sediada no Dubai, cancelou os voos para Bagdad, garantindo estar a “monitorizar os desenvolvimentos com atenção”, sem dar mais pormenores. A FlyDubai também cancelou voos.

As palavras de condenação mais duras vieram do Reino Unido, histórico aliado dos Estados Unidos e com soldados no Iraque, ao condenar o ataque de mísseis e avisar o Irão para que “não repita estes ataques perigosos e irresponsáveis”.

“A diminuição da tensão é tanto sábia como necessária. Deve-se seguir um caminho político para a estabilidade”, reagiu no Twitter o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Anwar Gargash. “O Japão apela a todas as nações envolvidas o máximo esforço diplomático para melhorar as relações”, acompanhou Yoshihide Suga, ministro japonês responsável pela coordenação do Governo de Shinzo Abe.

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