Miguel Pinto Luz: “Não tenho padrinhos na política”
O candidato à liderança do PSD diz que não é “dono” dos votos dos seus apoiantes.
- Entrevista a Miguel Pinto Luz: “Comigo não haverá acordos de regime com o PS em áreas tradicionais”
Fica preocupado com o número de militantes que vão poder votar dia 11 de Janeiro, que neste momento ronda os 27 mil?
Sim, fico preocupado. Há um afastamento da militância, não é só um afastamento entre eleitores e eleitos.
Há um afastamento do pagamento das quotas...
Temos visto que a comunicação social não olha para esta campanha, não está a ter o mesmo acompanhamento de outras campanhas internas já tiveram. Sabemos que os militantes não estão mobilizados. Isso diz muito da forma sectária, não privilegiando a diferença de opinião, que tem estado como primeira premissa na liderança dos últimos dois anos. Essa incapacidade de lidar com a opinião diferente, com aqueles que não pensam da mesma forma, afasta muita gente do partido e isso tem sido muito negativo para a garantia das aspirações futuras do PSD.
Como é que financia a sua campanha?
Esta é uma campanha, de alguma forma, espartana...
A apresentação não pareceu...
Houve, de facto, uma vontade de fazer uma apresentação condigna, de mobilizar a tal militância fervilhante. Eu próprio invisto, todas as minhas deslocações são pagas por mim e há um conjunto de militantes que se juntaram para financiar a campanha.
Entre esses militantes está Miguel Relvas. Qual é o seu papel na campanha?
Não está Miguel Relvas. Como apoiante, sim. Miguel Relvas sinalizou o apoio como outros militantes ilustres, como outro Relvas, o Alexandre Relvas. Nós somos plurais ao ponto de conseguir congregar pessoas tão diferentes como José Eduardo Martins, Alexandre Relvas, Miguel Relvas ou Mira Amaral e tantos outros que estão nesta candidatura. Não nego nenhum dos apoios que me têm manifestado, da vontade de estarem nesta caminhada. Agora, eu não tenho padrinhos na política. A minha militância é já longa, nunca tive padrinhos, mas não ando aqui a sacudir a água do capote no sentido de negar apoios.
O Chega e a Iniciativa Liberal são ameaças ou parceiros para o PSD?
Temos de olhar de formas diferentes. A Iniciativa Liberal e o Chega aparecem precisamente porque o PSD não foi capaz de dar resposta. Se o PSD for outra vez um partido reformista, esses novos partidos tornar-se-ão epifenómenos porque aí o PSD será outra vez o partido galvanizador e congregador dessas vontades que hoje não se revêem no PSD. O PSD está hoje com uma agenda e discursos afunilados.
Mas reconhece eficácia ao discurso de André Ventura?
Reconheço populismo e demagogia. Isso preocupa-me. A minha política de alianças é muito clara: não há alianças em que não seja o PSD liderante em primeiro lugar. Em segundo lugar, os valores e a iniciativa política também são do PSD. Depois, temos de dialogar com os partidos que estão à nossa direita como diz Luís Montenegro, e bem. Não são suficientes. Aliás, é muito pouco para garantir governabilidade. Por isso temos de olhar para um PSD outra vez grande e um partido das grandes maiorias.
Acredita num PSD que tem de crescer para poder voltar ao poder sozinho?
O único que caminho que o PSD pode trilhar é o de ter a ambição de ser outra vez maioritário em Portugal. De não depender de ninguém, se necessitar desses apoios, avaliaremos, mas a ambição tem de ser essa.
Não considera ser necessária uma reforma deste espaço como defende o movimento 5.7 de Miguel Morgado?
Eu não sei o que isso quer dizer. Não acredito em engenharia artificial. O que é isso de refundar o centro-direita? Sinceramente não sei. Também não sei o que é essa agremiação de siglas do centro-direita, somar aquilo tudo, mistura-se e depois sai um cocktail interessante para os portugueses?
O PSD deve apoiar desde já uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa?
Essa discussão só pode ser feita depois de o professor Marcelo Rebelo de Sousa tomar uma decisão. O papel do Presidente da República será ainda mais importante do que foi neste mandato. Terá o papel de assinar o contrato social que urge assinar com os portugueses para garantir que este Estado Social não desaparece sob pena de não o conseguirmos reconstruir mais tarde. Sou suspeito porque sou amigo do professor Marcelo Rebelo de Sousa, estarei ao lado dele e farei tudo para que o PSD também esteja ao lado dele caso seja eleito.