Jovem que matou sexagenário à pancada condenado a 18 anos de prisão

O juiz presidente do colectivo sublinhou os contornos homofóbicos do crime.

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Fernando Veludo

O Juízo Central Criminal do Porto condenou esta quarta-feira a 18 anos de prisão um jovem que espancou até à morte um homem de 66 anos.

Na leitura do acórdão, o juiz presidente do colectivo sublinhou os contornos homofóbicos da actuação do arguido. “Destruiu uma vida porque a orientação sexual dessa pessoa lhe causava repugnância. Demonstrou arrogância homofóbica”, sublinhou o magistrado judicial.

O juiz disse que a pena aplicada só não é mais grave atendendo à idade do arguido e ao facto de ter chamado os serviços de emergência. A pena aplicada reporta-se ao crime de homicídio qualificado, caindo a acusação por furto.

Nas alegações finais do processo, em 13 de Novembro, o Ministério Público pediu uma pena nunca inferior a 18 anos para Juan Costela, o jovem que em Fevereiro matou o sexagenário a murro, pontapé e joelhadas.

“O crime foi brutal. Agiu de forma cruel e filmou a vítima nos seus momentos derradeiros, enquanto a insultava. Fazia comentários jocosos enquanto aquele estava num sofrimento atroz”, disse então o procurador.

No início do julgamento, em 25 de Setembro, Juan Costela alegou que a sua conduta foi uma reacção a tentativas da vítima de contactos sexuais e acrescentou que agiu sob efeito conjugado de álcool e drogas.

“Tudo se passou em segundos. Não estava em mim. Estava endiabrado. Tinha tomado haxixe e bebido cerveja”, alegou para justificar o espancamento que viria a provocar a morte da vítima. Mais tarde, disse que tinha transtorno de personalidade e que deixara de ser medicado para o efeito.

O homem disse ainda que o sexagenário reincidiu em pedidos para se envolverem sexualmente, o que garantiu nunca pretender.

Em audiência foi revelada a perícia ao telemóvel do arguido, ficando comprovado que enviava mensagens a homens mais velhos oferecendo-se para sexo em troca de 600 euros.

O espancamento foi consumado entre as 11h00 e as 14h00 de 11 de Fevereiro de 2019, na residência do ofendido, situada num primeiro andar da Rua de Santos Pousada, no Porto, e a vítima foi encontrada cadáver no dia seguinte, por uma vizinha.

Em consequência dos murros, joelhadas e pontapés que lhe foram infligidos, o sexagenário ficou com lesões traumáticas crânio-meningo-encefálicas e faciais que determinaram a sua morte, segundo o relatório da autópsia.

Além de agredir a vítima e a filmar em sofrimento, o arguido furtou-lhe bens pessoais.

O arguido nasceu na Colômbia, mas adquiriu nacionalidade espanhola. Tinha pendente um mandado de detenção europeu, emitido pelas autoridades de Espanha, para cumprir 14 anos de prisão por outros crimes, circunstância que, segundo a acusação, o sexagenário morto no Porto desconhecia na altura em que o acolheu.

Sabia apenas, diz o MP, que tinha sido expulso de uma casa-abrigo do Porto “por questões de mau comportamento” e quis acolhê-lo na sua residência, retirando-o à condição de sem-abrigo e chegando mesmo a pagar-lhe as despesas.

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