Para lá da maçonaria, o que ficou do debate do PSD

Rui Rio mudou de ideias. Miguel Pinto Luz deixou a gravata em casa. E o que importa é opositor externo.

O esperado debate entre os três candidatos à liderança do PSD ficou conhecido pelo debate da maçonaria. Pela primeira vez, “olhos nos olhos”, como dizia um deles, discutiram o tema e, pelos vistos, ninguém gosta, afinal, da maçonaria. Dois, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz, experimentaram e afastaram-se. Foi o que percebemos, embora não não tenhamos ficado a saber o que é que encontraram de que não gostaram.

Outros momentos houve em que parecia que estávamos a espreitar pelo buraco da fechadura e a ouvir uma conversa que não devíamos estar a ouvir. A primeira parte teve momentos embaraçosos para quase todos. Um debate entre adversários do mesmo partido é mais propício a ataques pessoais, a discutir-se quem tem mais ou menos jeito ou quem tem mais ou menos memória. 

Ainda assim, retiro três sinais importantes daquele debate que não chegou a uma hora.

  1. Rui Rio mudou de ideias. Já não está tão convencido, como estava logo a seguir às eleições legislativas, que este Governo não conseguirá aguentar quatro anos. Agora, já admite que, “apesar do desgaste”, o Governo socialista “tem todas as condições para lá chegar”. O que levanta uma dúvida: Rio achava que iria ter um papel de maior relevo nesta legislatura porque Costa poderia precisar muito dele. Ao reconhecer que o PS está com vontade de continuar a governar à esquerda, faz sentido Rio manter a mesma disponibilidade para abrir as portas ao PS?

  2. Miguel Pinto Luz deixou a gravata em casa. Não é um mero detalhe. Pinto Luz, o mais desconhecido dos candidatos e aquele que foi a revelação do debate, pediu para o tratarem por “Miguel” (lembrando o célebre Álvaro Santos Pereira, até) em vez de “doutor” ou “engenheiro” e ensaiou ali um discurso mais focado e virado para os mais jovens. Pediu ambição, mudança e explicou onde o Estado deve estar (nas respostas ao pré-escolar, por exemplo) e de onde deve sair (empresas de transportes). A meu ver, mostrou não ter receio da sombra do novíssimo Iniciativa Liberal.

  3. O que importa é opositor externo. Luís Montenegro distinguiu-se pela clareza com que quer manter à distância o PS. O pingue-pongue entre o ex-líder parlamentar do PSD e Rui Rio fez lembrar o debate de 2014 entre António Costa e António José Seguro (com a diferença que estes dois se trataram durante todo o debate por “tu”). Também nessa altura a posição face ao principal partido adversário dominou as atenções. Seguro foi mais vago sobre como iria governar, Costa garantiu que o PS “não podia ser parceiro do PSD e CDS” porque “isso seria trair a vontade dos portugueses”. Sabemos bem o desfecho, ganhou o segundo. Serão os militantes do PSD parecidos com os do PS e quando o partido está na oposição não querem ouvir falar em acordos com o primeiro-ministro em funções? Saberemos em breve.

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