Um sofrimento humano incalculável

O planeta está tirar-nos o tapete. É altura de entender e enfrentar a realidade. Estamos a ficar sem margem de manobra. A emissão incessante e desgovernada de carbono está a aumentar as temperaturas em todos os continentes e a originar mudanças nos padrões climáticos.

Foto
Murad Sezer/Reuters

A ameaça paira em cada uma das tempestades, furacões, inundações, ondas de calor ou risco elevado de ocorrência de fogos florestais. Nunca estivemos tão atentos aos alertas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e até já conhecemos de cor os nomes dos meteorologistas. Cada vez que os oiço penso na minha segurança, na dos meus familiares e amigos e na dos seus familiares e amigos. Conseguiremos estar todos em locais seguros quando estes episódios acontecerem? Escaparemos ilesos?

O planeta está tirar-nos o tapete. É altura de entender e enfrentar a realidade. Estamos a ficar sem margem de manobra. A emissão incessante e desgovernada de carbono está a aumentar as temperaturas em todos os continentes e a originar mudanças nos padrões climáticos. Como consequência assistimos ao propagar da intensidade e frequência dos episódios climatéricos extremos que afligem milhões de pessoas. Que também nos afligem a nós, portugueses.

Mas falar de emergência climática não é só falar destes episódios que têm tanto de fugazes como de destruidores. Há outras consequências de médio e longo prazo que têm vindo a actuar e que já fazem mossa. Um dos exemplos que diariamente vemos nos media são os migrantes da Síria. A guerra da Síria começou há mais de oito anos, depois de três anos de uma seca severa aliada à frágil distribuição de água no país.

Tal como aconteceu nesta região da Ásia Ocidental, as alterações climáticas vão aumentar as áreas inabitáveis do planeta Terra, situação que levará a disputas por territórios e seus recursos naturais, leia-se, água e terra fértil. Quando as condições de sobrevivência são ameaçadas, o potencial de conflitos violentos, crises humanitárias e mortes aumenta. Homens e mulheres terão que mudar a forma como vivem ou mesmo mudar-se e adaptar-se a novos locais. Chama-se migração.

Se nada fizermos, a escassez de água e alimentos em grande escala será bem mais cedo do que imaginamos. Parece elementar: o clima será um motor de conflito nas próximas décadas. A emergência climática origina instabilidade social, política, económica, financeira e, claro, cultural. Põe um travão no desenvolvimento das pessoas, das comunidades, da sociedade, do mundo.

Portanto, todos temos algo a perder e ninguém está imune à rápida deterioração dos oceanos, das florestas e do solo que são só e apenas o suporte básico para a sobrevivência dos homens e das mulheres. Deixar que estes sistemas entrem em colapso é permitir que a humanidade enfrente enormes problemas em diferentes zonas do globo.

Na altura em que se celebram 40 anos após os primeiros avisos dos cientistas relativos às alterações climáticas, 11 mil cientistas de 153 nações alertam para o facto de que, sem mudanças profundas e duradouras, o mundo vai enfrentar um “sofrimento humano incalculável”.

O planeta está a desintegrar-se. A economia mundial, as nações e a nossa sobrevivência podem estar por um fio. Todos corremos perigo de vida. Tu, eu, os teus e os meus familiares e amigos. A única escolha emocional, racional e sensata que temos é lutar pela nossa sobrevivência e deixar um planeta saudável para os nossos filhos e netos. Estamos a fazer tudo o que nos é possível para evitar um sofrimento humano incalculável? E os líderes mundiais que se reúnem na COP25 em Madrid? Também estão?

Sugerir correcção
Ler 1 comentários