Casa Museu Fernando de Castro deixa de ser um local secreto

Depois da divulgação de seis locais um tanto escondidos no grande Porto, a Porto Secret Spots acolhe a Casa Museu Fernando de Castro como um dos seus locais “secretos” a descobrir na cidade.

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Quarto de Fernando de Castro. Adriano Miranda
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A sala de jantar ostenta um portão idêntico ao da Igreja de São Francisco. Adriano Miranda
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A sala de baile, também conhecida por sala amarela, distingue-se das restantes divisões por ser a única que não apresenta figuras religiosas. Adriano Miranda
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A talha com relevo patente na escadaria de acesso ao piso intermédio. Adriano Miranda
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Há livros espalhados por toda a casa. A maioria pertencem a contemporâneos do seu tempo. Adriano Miranda
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O quarto da irmã de Fernando de Castro é o único que não ostenta a talha com relevo. No piso intermédio, mesmo ao lado da sala azul, encontram-se, agora, no que outrora fora o quarto da irmã, expostas algumas caricaturas da autoria de Fernando de Castro. Adriano Miranda

Poucos dão por ela. Localizada na Rua Costa Cabral, no número 716, a apenas 800 metros da Praça do Marques, no Porto, a Casa Museu Fernando de Castro passa despercebida. A fachada simples e a tinta branca que cobre as paredes escondem a tremenda riqueza artística que encerra. Pertence administrativamente ao Museu Nacional de Soares dos Reis desde 1952 e desde então que está aberta ao público. É, no entanto, um local que poucos conhecem, “recebendo por ano entre 300 a 400 visitantes”, aponta Pedro Pardinhas, da Porto Secret Spots, que quer começar a chamar a atenção para mais este segredo da cidade.

Por isso, o Porto Secret Spots, criado “por portuenses e para portuenses” com o “objectivo de dar visibilidade a locais menos conhecidos no grande Porto” e “levar o turista à periferia”, adiciona, agora, ao seu leque de locais “secretos”, esta Casa Museu. E pretende revelar o que se esconde atrás daquelas anónimas paredes brancas: O interior da casa, durante o período em que foi habitada pelo negociante, poeta e caricaturista Fernando de Castro (1889-1946), foi revestida praticamente no seu todo com talha proveniente das igrejas e dos conventos, um material que era na altura de fácil acesso devido às politicas da Primeira República, que tinham mandado encerrar várias igrejas, e também acessível devido ao pico das restaurações do património religioso nos anos 30. A intenção de Fernando de Castro ficou bem clara ao fim de algum tempo: queria criar, ali mesmo, um museu. Passou, por isso, grande parte da sua vida a coleccionar raros artefactos e objectos.

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No hall de entrada está bem presente o gosto que Fernando de Castro nutria pela Portugalidade. Adriano Miranda

A colecção é vasta. Há livros espalhados por toda a casa. Há pinturas que vão desde o século XVI ao século XX, imagens religiosas que vão do século XVI ao XIX, como a de São Brás e a da Senhora da Vandoma. Há ainda muitas peças de cerâmica, vidro e torêutica. No hall de entrada, destacam-se da parede umas figuras que representam alminhas e a sala de jantar está separada do resto da casa por um portão idêntico ao da igreja de São Francisco. A sala de baile, também conhecida por sala amarela e localizada no piso intermédio, distingue-se das restantes pela quantidade de espelhos que a reveste e também pela inexistência de imagens religiosas.

O piso superior é o mais privado. É onde se encontram a maioria dos quartos e o escritório do Fernando de Castro, onde estão as obras que publicou, como por exemplo o Meteoro. Subindo as escadas de acesso a este piso deparamo-nos com “a capela”. Ali há um sacrário, uma custódia e uma sacada idêntica à das igrejas. Algo “peculiar aqui é que nem tudo é o que parece”, explica Pedro Pardinhas. “Há imensas portas falsas, por exemplo.”

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Escultura do próprio Fernando de Castro, localizada no corredor do piso inferior. Adriano Miranda
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A Capela - piso superior da Casa Museu de Fernando de Castro. Adriano Miranda

Apesar da riqueza do espólio, não há registos escritos da colecção pois suspeita-se que a irmã, Maria da Luz de Araújo e Castro - a última a habitar a casa antes desta pertencer ao Museu Nacional de Soares dos Reis - tenha mandado queimar esses documentos, “o que agora dificulta o estudo”, conta Pedro.

A partir de Novembro, a residência habitada pelo coleccionador terá não só visitas-guiadas, sob a responsabilidade do Museu Nacional de Soares dos Reis, mas também pela equipa por detrás do projecto Porto Secret Spots, que é a mesma da Porto Bridge Climb - nome dado à visita e escalada ao miradouro da Ponte da Arrábida. As visitas, que exigem uma marcação prévia de 72 horas via telefone ou email e têm um custo de 60€ por grupo de 1 a 5 pessoas e de 70€ por grupo de 6 a 10 pessoas, já estão disponíveis e todos os requisitos encontram-se online. 

O guião será “acessível a todos e não tão histórico”, prometem. Pretendem que todos os guiões dos futuros locais “secretos” sejam assim. Ao leque que conta já com a escalada ao miradouro da Ponte da Arrábida e a divulgação da Quinta de Villar d'Allen - um exemplo vivo das propriedades burguesas do século XIX, localizado a 300 metros do Palácio do Freixo -, da Galeria Nuno Centeno, da Torre da Igreja do Marquês (que obriga à subida de 204 degraus) e do Museu Vivo Pinhais, pretendem adicionar em 2020 mais 12 localizações. 

Texto editado por Ana Fernandes

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