Energia do Futuro
A inteligência urbana, entre a tecnologia e as soluções naturais
Em 2007, havia já mais população, a nível mundial, a viver nas cidades do que em zonas rurais. Estima-se que, em 2050, seis mil milhões de pessoas vivam em cidades, ou seja, 70% da população mundial. Urge repensar estes espaços, responsáveis por 70% das emissões de gases com efeito de estufa e, nesse sentido, uma cidade inteligente vai ter de ter menos carros a circular, mais gente a andar a pé, de bicicleta, e em transporte público, e terá de gerir melhor recursos como a energia (na mobilidade, na iluminação e na climatização dos edifícios), a água e os resíduos, entre outros. A tecnologia pode dar uma ajuda, mas há formas simples, e nada inovadoras, de ganhar, no espaço urbano, a corrida contra o aquecimento global.
Cidade, um conceito em reajustamento
A pressão para disponibilização de mais habitação nas cidades vai ser uma constante, nos próximos anos, exigindo um esforço de planeamento e gestão do solo. Um pouco por todo o mundo, debate-se o fim do modelo de cidade com funções e tipologias de habitação segregadas (zonas industriais num lado, prédios noutro, moradias noutro ainda), de modo a garantir a aproximação entre as funções casa-trabalho, diminuir os custos com transportes e garantir o acesso de um maior número de pessoas aos serviços normalmente instalados em zonas mais centrais.
Iluminação mais inteligente
Além do esforço que vai sendo feito pelas famílias, em suas casas, dezenas de municípios portugueses estão a mudar a iluminação pública para LED, tecnologia que pode ser acompanhada por sistemas de gestão dinâmica da luz fornecida em cada ponto, se necessário. Isso permite iluminar menos uma via quando ninguém passa por ela e, através de sensores, detectar a presença de pessoas e veículos, para lhes dar mais luz ao caminho.
A Internet das coisas: em casa e na rua
A Internet das coisas, que põe objectos a comunicar entre si, não se confina às nossas casas — nas quais será normal, como já se vê no mercado, controlar electromésticos à distância, a partir do emprego por exemplo, ou saber o que há, e o que falta no frigorífico, para preenchimento automático de uma lista de compras. A ideia de cidade do futuro passa também pelo conceito de MaaS — Mobilidade como um serviço — que nos desafia a não sermos donos dos nossos veículos mas a usar um, em regimes como os do carsharing, bikesharing e outros, quando necessitemos. Algo que implica uma revolução cultural.
Os desafios da mobilidade
Na rua, os veículos, com ou sem motor, de quatro ou de duas rodas, terão cada vez mais tecnologia integrada que permitirá gerir conflitos, com ou sem intervenção humana (um aspecto polémico), mas também apoiar a gestão de fluxos, os tempos de semafóros e a informação, em tempo real, de tempos de espera pelo transporte público, entre muitas outras situações. A mobilidade é responsável por 21% das emissões de carbono, o que nos obriga, desde logo, a transferir, em espaço urbano, parte dos nossos percursos para os modos activos (pé e bicicleta) e para o transporte público.
Lixo, uma palavra em desuso
Se as metas europeias forem cumpridas, dentro de década e meia cerca de 80% dos resíduos que produzimos terão de reentrar no circuito económico. O que não puder ser reciclado será queimado, e pouco irá para aterro. Portugal está neste momento num processo de incremento da recolha selectiva de biorresíduos, para posterior compostagem ou produção de electricidade e biogás, e vai ser cada vez mais comum que em ruas e bairros surjam unidades de compostagem comunitária.
Soluções naturais contra os excessos do clima
As árvores e os designados espaços verdes não são apenas um instrumento de captação de CO2 — o que já seria essencial para contrabalançar as emissões da cidade. Sujeitos como estamos, mesmo em zonas temperadas, a ondas de calor cada vez mais frequentes, os corredores verdes garantem sombra e uma diminuição da temperatura ambiente, à superfície.
Mais energia de produção local
Com as tecnologias disponíveis e em desenvolvimento, a produção de energia à escala doméstica, do bairro, e de toda uma cidade vai ganhar escala. Hoje falamos em encher as coberturas de edifícios de painéis fotovoltaicos e de instalar turbinas eólicas, mas a própria arquitectura destes equipamentos está já em mudança, tornando-os parte da pele (vidros, revestimento, partes estruturais) do edificado.
Cidades com (e para) pessoas
As cidades hoje são espaços propícios ao individualismo e ao desenraizamento, problemas que se agudizam em sociedades em envelhecimento, como a nossa. A cidade do futuro passará por um urbanismo que privilegia espaços públicos, pequenos e maiores, o contacto social (que existe menos numa cidade dependente do carro, onde se use pouco modos mais lentos), e redes de participação cívica e de envolvimento dos cidadãos na resolução dos problemas comuns.
Cidades a crescer
O movimento de urbanização global é imparável. As cidades produzem 80% da riqueza mundial, mas para isso usam, neste momento, 75% da energia que consumimos. O grande desafio é garantir que isso seja alcançável com menos recursos e menos emissões poluentes. Com um esforço concertado, e os investimentos certos, estas poderiam ser reduzidas a 10% do que actualmente se regista, sem perda de bem-estar.
População mundial urbana
Em percentagem
O futuro da população mundial está nas áreas urbanas
Em milhões
FICHA TÉCNICA
Coordenação: Célia Rodrigues; Texto: Abel Coentrão; Infografia: Cátia Mendonça, Francisco Lopes e José Alves; Ilustração: José Alves; Desenvolvimento web: Francisco Lopes e José Alves