Cidadãos unem-se pelas Galerias Lumière e “património” do Porto

“Lentamente vão desaparecendo os símbolos da genuinidade, pertença, singularidade, identidade, património material e humano, a alma do Porto.” Uma petição tenta evitar fecho anunciado das galerias construídas nos anos 1970

Foto
Nelson Garrido

São “o mais recente exemplo do atentado à memória, à história, à cultura [e] ao património da cidade” - mas um grupo de cidadãos quer impedi-lo. As Galerias Lumière, com fim anunciado para Outubro de 2020, juntam-se a uma “preocupação crescente” entre os portuenses que vêem acabar “os locais mágicos que fazem parte da sua memória colectiva”. Uma petição lançada online esta quarta-feira tenta juntar força a um movimento pelas galerias dos anos 70, numa declaração sobre toda a cidade.

“Lentamente vão desaparecendo os símbolos da genuinidade, pertença, singularidade, identidade, património material e humano, a alma do Porto”, lê-se na petição, que antecipa um fim trágico para o comércio que ali habita – muito dele diferenciador, como a Poetria, primeira livraria portuguesa dedicada à poesia e teatro, a Flores e Artes, antiga florista com “clientes fiéis”, a Wise, tabacaria onde se encontra imprensa internacional, a Cássio e a Out of Lunch. Se as Galerias Lumière encerrarem para dar lugar a um empreendimento turístico - como se anunciou no Pedido de Informação Prévia enviado à Câmara do Porto pela sociedade anónima de investimentos imobiliários Imocpcis -, muitas dos pequenos negócios das Lumière poderão fechar, tendo em conta os “preços dos arrendamentos actualmente praticados” no Porto.

Mas o projecto das galerias, construídas nos anos 70 e desenhadas pelo arquitecto Magalhães Carneiro, “é possível e sustentável”, defendem os criadores da petição. “E só não o é actualmente por terem sido cometidos, ao longo do tempo, alguns erros graves, para além da falta efectiva de investimento no espaço, que impediram o seu progresso e desenvolvimento, como o encerramento das duas salas de cinema A e L em 1997, para se converterem num parque de estacionamento subterrâneo, ou a ocultação de uma bela calçada portuguesa com a instalação de uma “praça de alimentação” que dividiu o centro em duas áreas”, acrescentam.

A Direcção Regional de Cultura do Norte dará um parecer para o projecto até ao dia 13 de Novembro – e não esclarece, para já, se o pedido submetido prevê a demolição do edifício, como terá sido dito a alguns comerciantes, ou não.

A petição cita a “Carta de amor às Galerias”, escrita por Sara Barros Leitão e partilhado nas redes sociais no fim-de-semana passado ("Fechou a última creche pública do centro histórico, fechou o Sr. António ‘Farinheiro’, demoliram o quiosque amarelo - mais um hotel de luxo, mais um apartamento T0 Luxury, vai construir-se um El Corte Inglês na Boavista, os velhos assinam contratos que não entendem e que os expulsam das suas casas, aprovam-se obras de reabilitação que só conservam a fachada, Wine and Tapas very typical, mandam a Vandoma para longe - fecham tudo e não deixam nada…”) e também o arquitecto Álvaro Siza Viera, que disse recentemente ao PÚBLICO haver “excesso de turismo” no Porto e pediu “restrições” para se atingir um ponto de equilíbrio entre habitação e turismo.

É possível, defende a petição - assinada, à hora de publicação deste texto, por mais de 400 pessoas em menos de um dia -, um projecto que “tenha em conta as necessidades e tendências da cidade e o direito à vida das empresas e pessoas que ali permanecem e querem continuar a permanecer”.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários