Trudeau ganhou as eleições, o desafio será continuar a governar o Canadá

Ao perder a maioria absoluta, o primeiro-ministro liberal fica fragilizado. Conservadores prevêem falhanço do executivo minoritário, e apresentam-se como “o próximo Governo”.

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Justin Trudeau terá de se apoiar no Novo Partido Democrático, de Jagmeet Singh VALERIE BLUM/EPA

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, venceu as eleições no Canadá, mas perdeu a maioria absoluta. A tradição no Canadá nestes casos é a formação de um governo minoritário, e deverá ser esta a escolha de Trudeau para governar – o país teve apenas uma vez uma coligação, em 1917, durante a I Guerra Mundial.

Mas a tradição canadiana também diz que os governos minoritários não são muito duradouros – raras vezes mais do que dois anos e meio. Por isso, os conservadores, que estiveram taco a taco com os liberais nas sondagens e tiveram mais votos no total (mas menos deputados, por causa do sistema eleitoral por círculos) apresentaram-se como o provável próximo governo.

Com 157 deputados no Parlamento de 338, os Liberais de Trudeau tiveram uma descida marcada. O Partido Conservador de Andrew Scheer subiu de 95 para 121.

O ambiente da campanha foi de um acérrimo combate entre Liberais e Conservadores e, na noite eleitoral, Justin Trudeau e Andrew Scheer mantiveram a animosidade, com acções e palavras. Trudeau começou o seu discurso um minuto depois de Scheer ter iniciado o seu, algo muito pouco convencional em noites eleitorais – geralmente os líderes esperam que os outros terminem os seus discursos. Sheer, por seu lado, afirmou que os conservadores eram “o próximo governo”, prevendo que o de Trudeau não irá durar.

Espera-se que Trudeau tenha de se apoiar no Novo Partido Democrático, de Jagmeet Singh, que terá 24 deputados (desceu de 39), o que o deverá levar para a esquerda. Singh disse já ter falado com Trudeau e garantiu que o seu partido vai “trabalhar para concretizar as prioridades que os canadianos têm”. Esta fórmula – governo liberal com apoio do NPD ​– foi seguida em 1972-74 e 2005, lembra a Reuters.

A ecologia foi o tema dominante na campanha, e os Verdes, de Elizabeth May, ganharam três lugares (no Parlamento cessante tinham dois, um deles conseguido numa eleição intercalar). Outros partidos, desde o Liberal de Trudeau ao NPD e ao Bloco Québécois, defendiam medidas para minorar efeitos das alterações climáticas.

A maior subida foi a do Bloc Québécois, de dez para 32 deputados, após uma mudança em que a soberania da província francófona que o partido defendia se transformou mais numa promoção dos interesses da região. “Pela primeira vez, a realização da soberania não está no nosso mandato”, disse o líder do partido Yves-Francois Blanchet.

O maior derrotado foi o partido de direita radical Partido do Povo, de Maxime Bernier, antigo conservador que fundou a nova formação no ano passado. Bernier, que mantinha o seu lugar de deputado, não conseguiu ser eleito, e o partido não obteve qualquer representação parlamentar.

No seu discurso de vitória, Trudeau prometeu governar para todos e não só para os que votaram nele. O primeiro-ministro, que chegou ao poder numa onda de entusiasmo pela promessa de um novo estilo de fazer política, acabou por conseguir sobreviver a três grandes escândalos, todos nos últimos seis meses: relatos de pressão sobre a procuradora-geral e ministra da Justiça para que uma empresa não fosse levada a julgamento por corrupção (e fosse antes feito um acordo), a aprovação de um oleoduto enquanto defende medidas contra as alterações climáticas, e a vinda a público de fotos em que, mais jovem, aparece disfarçado com a cara pintada de preto, perpetuando estereótipos raciais ao mesmo tempo que se apresenta como um defensor da diversidade.

Notícia corrigida às 18h05: o número de deputados do Partido Conservador subiu para 121 e não 212 como era erradamente dito

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