A Ordem do silêncio

Há um problema grave de competências, numa área que é determinante para as opções que quaisquer pais possam tomar sobre o nascimento de um filho.

Lê-se e não se acredita: “Infelizmente, há muitos colegas meus a fazerem ecografia, nomeadamente morfológica – que diagnostica malformações –, e que não têm competência para isso.”

Vamos lá respirar fundo. As declarações foram proferidas em reacção ao terrível caso da criança que nasceu sem olhos, nariz e parte do crânio, malformações graves que o médico obstetra não detectou nas três ecografias que fez numa clínica privada. Ou seja, pelo que diz o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia, Luís Graça, sabe-se que há um problema grave de competências, numa área que é determinante para as opções que quaisquer pais possam tomar sobre o nascimento de um filho e que só podem confiar num médico para as tomar.

Estranha-se o silêncio geral sobre isto, como se estranha que, estando a classe consciente deste défice de competências, um médico que já tem quatro processos em curso no conselho disciplinar da Ordem dos Médicos, que teve já um processo no Ministério no Público sobre um caso similar, possa continuar a exercer a sua actividade, sem qualquer sobressalto da parte dos seus pares, que é suposto vigiarem pela qualidade dos serviços prestados.

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, diz que espera explicações do Conselho Disciplinar da Secção Regional do Sul da Ordem a que preside. Aquilo que a comunidade exige é que esse Conselho seja transparente sobre esses outros casos e que explique o que o levou a não agir até agora.

Mais, sob pena de podermos considerar que a Ordem prefere o silêncio a expurgar as más práticas dos médicos, o que se exige de quem está no topo da pirâmide dos médicos é um total esclarecimento sobre o que se passa nesta área, quantos casos não detectados já se registaram e, claro, se já se aprendeu alguma coisa com isso. Menos do que isso é o mesmo que nada.

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