Casa da Arquitectura aponta irregularidades na organização do Prémio Távora 2019

Nuno Sampaio diz que a instituição não foi chamada a participar na edição deste ano do prémio. A presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos, Cláudia Costa Santos, responde que “a Casa da Arquitectura não poderia estar na organização porque não organiza, é um parceiro”.

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A entrega do prémio decorreu, este ano, na Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos Martin Henrik

O director da Casa da Arquitectura, Nuno Sampaio, lamentou esta quarta-feira que a entidade não tenha sido envolvida na organização da 15.ª edição do Prémio Fernando Távora e recusou qualquer responsabilidade em “eventuais impugnações” do concurso deste ano.

O galardão nacional, que patrocina uma investigação em arquitectura, foi atribuído este ano aos arquitectos Margarida Quintã e Luís Ribeiro da Silva com a proposta As Fronteiras do México, como anunciou na terça-feira a Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos (OA/SRN).

No regulamento do concurso constava a Casa da Arquitectura integrada no júri, o que não se veio a verificar, tendo este sido composto pelo vice-presidente da OA/SRN, Alexandre Ferreira, pela neta do arquitecto Fernando Távora Luísa Sequeira Pinto e pela realizadora de cinema de animação Regina Pessoa.

Contactado pela agência Lusa, Nuno Sampaio disse que este ano houve “um claro incumprimento do protocolo ainda em vigor” para a organização do prémio, que envolve a OA/SRN, a Câmara Municipal de Matosinhos e a Casa da Arquitectura. “Esta edição foi organizada exclusivamente pela Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos, à revelia do protocolo em vigor assinado pelas três partes”, apontou o director da Casa da Arquitectura.

Por seu turno, contactada também pela Lusa, a presidente da OA/SRN, Cláudia Costa Santos, disse estar “estupefacta” com esta situação: “A Casa da Arquitectura não poderia estar na organização porque não organiza, é um parceiro, tal como a Câmara Municipal de Matosinhos. Quem organiza o Prémio Távora é a Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos”, explicitou.

Nuno Sampaio recordou que o galardão foi lançado há 15 anos pela OA/SRN e pela Câmara Municipal de Matosinhos, tendo a Casa da Arquitectura vindo a aderir ao protocolo em 2009, que “teve pequenas alterações em 2012, mas continua em vigor, porque não foi denunciado por nenhuma das partes”. “Ficámos surpreendidos quando verificámos que não foi solicitada a nossa participação para a organização, e a nomeação do júri do concurso”, que constava no regulamento divulgado publicamente.

Embora a Casa da Arquitectura tenha sido convidada a estar presente na cerimónia da divulgação do prémio, “foi excluída da organização”, reiterou Nuno Sampaio à Lusa. “Nós temos muita estima pela Ordem dos Arquitectos e para nós é fundamental preservar o nome do arquitecto Fernando Távora e do prémio que ajudámos a constituir. Também desejamos a maior sorte aos vencedores desta edição, mas não podemos ser responsabilizados por eventuais impugnações do concurso por parte de algum concorrente”, sustentou o director da Casa da Arquitectura.

Questionado sobre se foi feito algum contacto com a OA/SRN sobre esta matéria, Nuno Sampaio disse que na terça-feira foi enviado um comunicado ao presidente da direcção nacional da Ordem dos Arquitectos, José Manuel Pedreirinho, a dar conta do incumprimento do protocolo.

Quanto à questão do regulamento, a dirigente da OA/SRN ressalvou: “A Casa da Arquitectura surge de facto na composição do júri, mas no regulamento anual, que é sempre igual. Acontece que este ano não apresentou qualquer proposta para a composição do júri”. “Como não queríamos correr o risco de anular o prémio, e a nossa principal preocupação era salvaguardá-lo e dar-lhe continuidade, fez-se uma alteração ao júri”, explicou Cláudia Costa Santos.

De acordo com o regulamento, o júri do Prémio Távora seria composto por cinco membros: dois em representação da OA/SRN, um indicado pela Casa da Arquitectura, um externo à área da arquitectura, mas com relevo nacional (este ano, a realizadora Regina Pessoa), e outro da família do arquitecto Fernando Távora (1923-2005).

De acordo com a OA/SRN, “sem a proposta da Casa da Arquitectura, o júri ficava par, o que não podia acontecer, porque o júri tem de ser sempre ímpar, portanto a Ordem teve de prescindir de um dos seus jurados para ficarem três”. “Antes de tomar qualquer decisão, o júri fez referência em acta sobre estas alterações para serem aprovadas e oficializadas no concurso”, disse a presidente da OA/SRN  sobre aquele “desvio da normalidade do regulamento”.

Cláudia Costa Santos diz não recear qualquer problema sobre o prémio, e rejeita que tenham ocorrido irregularidades na realização desta edição: “Estou estupefacta, até porque a Casa da Arquitectura foi convidada a estar presente na cerimónia”, apontou, comentando ainda que “não existe qualquer desavença com os parceiros” do galardão.

O prémio, que foi entregue na segunda-feira à noite na sede da OA/SRN, no Porto, distingue a melhor proposta de viagem de investigação seleccionada por um júri nomeado todos os anos para o efeito. O galardão, criado em 2005 por aquela estrutura da OA em homenagem a Fernando Távora, consiste numa bolsa de viagem no valor de 6.000 euros.

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