Companhias da Star Alliance preparam uso de dados biométricos

São 27 transportadoras, incluindo a portuguesa TAP, que a partir de 2020 poderão facilitar a vida nos aeroportos aos passageiros que autorizarem o uso de informações pessoais biométricas.

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Um passageiro prepara-se para embarcar através de reconhecimento facial em Nice, França Eric Gaillard/Reuters

A maior aliança de companhias aéreas do mundo, Star Alliance, vai desenvolver um sistema de identificação de passageiros com base em dados biométricos. O projecto foi entregue aos nipónicos da NEC, segundo um acordo assinado ainda em Julho. A portuguesa TAP é uma das companhias da Star Alliance, que transporta por ano 641 milhões de passageiros em todo o mundo. O uso de dados biométricos será limitado, na fase de arranque, aos passageiros frequentes – aqueles que estão registados nos programas de fidelização e que estão identificados pela aliança. E, de entre estes, só se fará uso dos dados daqueles que autorizarem essa utilização de informações pessoais biométricas.

Em troca, os clientes das 27 companhias aéreas da Star Alliance terão a vida simplificada nos aeroportos. Para tal, a NEC vai desenvolver uma plataforma interoperável que inclui um sistema de gestão de identidades que facilitará o acesso ao check in, à entrega de bagagem e às portas de embarque, que tradicionalmente, e hoje ainda em maioria, exigem a apresentação de um cartão de embarque e de um documento pessoal de identificação.

O reconhecimento facial, que é uma das tecnologias emergentes na indústria do turismo e das viagens, será usado para ajudar a identificar os futuros passageiros. Mas antes de poder recorrer a este sistema, cada um dos passageiros frequentes da Star Alliance terá de autorizar a utilização dos respectivos dados pessoais. Essa autorização é feita uma única vez – e naturalmente pode ser revogada – através da aplicação móvel.

Uma vez dada luz verde, a Star Alliance recorrerá aos dados biométricos sempre que um passageiro viaje num avião de uma das companhias daquela aliança. Os dados pessoais como a fotografia e outros detalhes de identificações “serão encriptados e guardados de forma segura dentro da plataforma”, garante a aliança. O uso desta tecnologia não impede que, em destinos e situações específicas, seja requerido a um passageiro a apresentação do passaporte, sobretudo para tratar de assuntos ligados a verificações de segurança e imigração.

A primeira aplicação prática desta plataforma deverá acontecer no primeiro trimestre de 2020, segundo dizem a Star Alliance e a NEC, num comunicado conjunto em que anunciam a parceria selada em Julho.

Há praticamente um ano, demos aqui conta de como o reconhecimento de imagens está a mudar a cara da aviação. Graças a esta capacidade tecnológica, chegaremos ao tempo em que ninguém perderá o avião por se ter esquecido do cartão de embarque no táxi, no autocarro ou em casa – porque esta passará a ser a nossa cara e todos os restantes dados biométricos que funcionam em conjunto, como uma assinatura única e exclusiva de cada pessoa.

Num teste feito em 2018 em Los Angeles, a Lufthansa (que é uma das fundadoras da Star Alliance) recorreu ao reconhecimento facial para fazer o embarque num A380. Demorou apenas 20 minutos para sentar 350 passageiros dentro do aparelho, apontando câmaras aos viajantes e usando dados biométricos, em vez de controlar cartões de embarque e passaportes.

Se a questão da velocidade é importante para as companhias aéreas, que ganham dinheiro quando os aviões estão no ar e não no solo, para as autoridades nacionais é importante a fiabilidade. Num outro teste, em Washington, o reconhecimento facial ajudou a detectar um impostor, que tentou desembarcar na capital dos EUA vindo de São Paulo, no Brasil. A câmara detectou, através do reconhecimento facial, diferenças substanciais entre a cara do passageiro e os dados do passaporte.

A NEC tem desenvolvido seis tecnologias de autenticação biométrica e o reconhecimento facial é apenas uma delas. As outras são reconhecimento da íris, das impressões digitais e das palmas das mãos, das veias dos dedos, da voz e da acústica do ouvido.

Esta empresa nipónica concorre num mercado bastante competitivo, que tem trabalhado sobretudo a certificação para o mercado da segurança, mas que pode facilmente estender-se a aplicações comerciais em zonas geográficas ou segmentos industriais em que o uso de dados biométricos de pessoas seja legal.

Há, aliás, um nome de peso que é português. Trata-se da Vision Box, uma empresa que exporta esta tecnologia para países europeus, Médio Oriente e América. E que tem vindo a trabalhar precisamente na área da aviação comercial de passageiros.

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