All Blacks contra os suspeitos do costume

A Nova Zelândia é a grande favorita a vencer o Mundial de râguebi, que arranca hoje no Japão. Inglaterra, África do Sul e Irlanda surgem como principais obstáculos a um inédito “tetra” neozelandês.

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Em 2015, em Inglaterra, a Nova Zelândia fez história. Após vencer na final disputada em Twickenham a Austrália, por 34-17, os All Blacks quebraram um tabu com quase três décadas (nunca tinham conquistado a taça Webb Ellis fora do seu país) e tornaram-se nos primeiros a defenderem com sucesso o título de campeão do mundo. Quatro anos depois, os All Blacks continuam a serem os mais mediáticos e a terem a melhor matéria-prima, mas será isso suficiente para que, no próximo dia 2 de Novembro, na cidade japonesa de Yokohama, consigam festejar um inédito “tetra"?

Trinta e dois anos separam o primeiro Campeonato do Mundo de râguebi, realizado em conjunto pela Nova Zelândia e a Austrália, e o Mundial que hoje se inicia em Tóquio, com o Japão-Rússia (11h45, SportTV1). Mas, mais de três décadas depois, pouco mudou. Apesar do aumento do número de selecções (eram 16 em 1987; são 20 em 2019), o enredo da competição continua a ser o mesmo: no início, são os All Blacks contra os suspeitos do costume, que se contam pelos dedos de uma mão.

Numa modalidade que continua a ser demasiado conservadora e pouco aberta ao surgimento de novas potências, em nove edições apenas 25 países disputaram o Mundial – Portugal conseguiu-o em 2007 -, sendo que 19 já competiram na prova em cinco ou mais ocasiões. Este ano, no Japão, a monotonia não será quebrada. Sem nenhuma cara nova (a Rússia, que participa pela segunda vez, é a selecção com menos currículo), o Mundial 2019 continuará a ter um favorito incontestado (Nova Zelândia) e um pequeno grupo de outsiders – Inglaterra, África do Sul e Irlanda surgem como principais obstáculos para um inédito tetracampeonato.

Com o sucesso organizativo garantido – a uma semana do início da prova já estavam vendidos 96% dos bilhetes disponíveis , dentro do relvado o Mundial só deverá aquecer para os favoritos a partir dos quartos-de-final, mas na fase de grupos já haverá duelos a doer.

Analisando os quatro grupos, o A promete ser o mais aberto. Tirando a Rússia, claramente a selecção menos qualificada da prova – os russos apenas garantiram a qualificação devido a uma penalização imposta pela Rugby Europe à Roménia (falha pela primeira vez um Mundial) e à Espanha , qualquer dos outros países pode sonhar com um lugar nos quartos-de-final. Os favoritos aos dois primeiros lugares são a Irlanda e a Escócia, mas Samoa e, principalmente, o anfitrião Japão prometem dar muito trabalho aos europeus.

No Grupo B não há qualquer dúvida: o apuramento será da Nova Zelândia e da África do Sul. A única questão é saber quem fica com o primeiro lugar, mas as incertezas deverão ficar esclarecidas já amanhã, quando All Blacks e Springboks se defrontarem no palco da final (10h45, SportTV4). O terceiro lugar, que garante automaticamente a qualificação para o Mundial de França em 2023, deverá ser da Itália, enquanto a Namíbia e o Canadá vão lutar entre si pela fuga à última posição.

O “grupo da morte” ditará o afastamento precoce de Inglaterra, França ou Argentina. Após o fiasco de 2015, quando, a jogarem em casa, ficaram atrás da Austrália e País de Gales na fase de grupos, falhando pela primeira vez a presença nos “quartos”, os ingleses contrataram o competente técnico australiano Eddie Jones e chegam ao Japão com legítimas ambições de lutar pelo segundo titulo mundial. O “XV da Rosa” terá, no entanto, que começar por garantir um lugar na fase seguinte, lutando com a sempre perigosa Argentina e a imprevisível França, que está a atravessar uma crise de resultados e de identidade. O duelo de amanhã em Tóquio entre argentinos e franceses (8h15, SportTV1) será decisivo na luta pelo apuramento. Estados Unidos e Tonga, que podem dar muito trabalho aos favoritos, completam o Grupo C.

Finalmente, no Grupo D haverá uma batalha entre a Europa e a Oceânia. Com o Uruguai a surgir como o elo mais fraco, Austrália e País de Gales são os favoritos aos dois primeiros lugares, mas terão a séria ameaça da Geórgia e Fiji. Com Mamuka Gorgodze de regresso, os georgianos têm vindo, ano após ano, a ganhar consistência e continuarão a ter na força do seu “pack” o principal trunfo. Pelo contrário, os fijianos destacam-se pela fantasia e, num dia de inspiração, podem bater o pé a australianos ou galeses.

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