Ataque de drone norte-americano matou 30 civis no Afeganistão

As forças afegãs estavam a levar a cabo uma operação contra o Daesh quando a zona foi atingida. Talibãs continuam com os atentados terroristas para perturbar as eleições presidenciais que aí vêm e obrigar Washington a regressar às negociações.

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Os atentados são uma forma de os talibãs obrigarem os Estados Unidos a regressarem à mesa das negociações AWAD JALALI/LUSA

Um ataque de drone dos Estados Unidos matou na quarta-feira pelo menos 30 civis afegãos e feriu outros 40 em Khogyani, na província de Nangarhar, no Afeganistão, e um camião armadilhado explodiu junto a um hospital na capital, causando pelo menos 20 mortos. A violência não tem parado de aumentar no país asiático à medida que as eleições presidenciais de 28 de Setembro se aproximam.

As forças afegãs, apoiadas pela força aérea norte-americana, estavam a conduzir uma operação contra um bastião do Daesh quando o veículo aéreo não tripulado bombardeou a zona onde os trabalhadores agrícolas se encontravam. Estavam reunidos em torno de uma pequena fogueira depois de uma jornada de trabalho. “Os trabalhadores acenderam uma pequena fogueira e estavam sentados quando o drone os bombardeou”, contou Malik Rahat Gul, líder tribal, à Al-Jazira.

O Ministério da Defesa afegão confirmou o bombardeamento, mas escusou-se a avançar números, diz a Al-Jazira. “O Governo está a investigar o incidente e foram recolhidos nove corpos do local do ataque, próximo de um pinhal”, disse Attaullah Khogyani, porta-voz do executivo da província de Nangarhar.

O Daesh começou a criar raízes no Afeganistão a partir de 2014 e desde essa altura que tem encetado uma guerra em duas frentes: contra os talibãs e contra o Governo afegão e os seus aliados norte-americanos. O califado que já não o é vê-se pressionado e perdeu grande parte da sua capacidade ofensiva, com os talibãs a controlarem hoje dois terços do território afegão e o restante a sê-lo pelo Estado afegão. Porém, o Daesh continua a fazer atentados e um dos mais mortíferos aconteceu num festejo de casamento em Cabul, matando 92 pessoas e ferindo mais de 140. 

Os últimos meses têm sido especialmente violentos no país asiático, num sinal claro da crescente degradação das condições de segurança à medida que as presidenciais de aproximam. Só em Agosto passado registou-se uma média de 74 mortos por dia, com um quinto a serem civis, diz a BBC.

As negociações entre os Estados Unidos e os talibãs terminaram subitamente por ordem do Presidente norte-americano, Donald Trump, pouco depois de um primeiro rascunho de acordo ser alcançado entre as partes: em troca da retirada dos cinco mil soldados norte-americanos, os talibãs garantiam que o Afeganistão não seria usado como base para futuros ataques contra os Estados Unidos e seus aliados.

A súbita decisão de Trump deu azo a preocupações sobre uma escalada da violência no país e assim aconteceu. Em retaliação, e enquanto se dizem dispostos a voltar a negociar, os talibãs prometeram ataques contra escolas que alberguem urnas de voto nas presidenciais de 28 de Setembro e apelaram aos afegãos para que não participem em comícios.

Entretanto, os ataques contra infra-estruturas do Estado afegão continuam. Um camião armadilhado explodiu esta quinta-feira nas proximidades do muro exterior do edifício dos serviços secretos, em Qalat, no Sul do país, causando a morte a pelo menos 20 pessoas e ferimentos noutras 90. O hospital próximo do edifício também foi atingido.

“O camião armadilhado que se dirigiu contra um muro exterior do edifício da secreta detonou, mas mesmo ao lado havia um hospital que levou com muito do impacto da explosão”, disse o correspondente da Al-Jazira, Rob McBride, a partir de Cabul.

As versões do ataque são ainda discrepantes. Um responsável superior do Ministério da Defesa disse que os talibãs tinham como alvo um centro de treinos da secreta afegã, mas que estacionaram o veículo nas proximidades do portão do hospital, detonando-o.

Entre as vítimas mortais encontram-se profissionais de saúde, pacientes, mulheres e crianças, diz a Al-Jazira. “O número de mortos pode subir à medida que pessoas e equipas de salvamento procuram sob os escombros”, disse Haji Atta Jan Haqbayan, membro do conselho da província de Qalat.

Este atentado segue-se a um que esta quarta-feira feriu 12 pessoas num ataque a um edifício governamental na província de Nangarhar e a outros dois que esta terça-feira causaram a morte a 48 pessoas em Cabul, capital do Afeganistão. Um teve como alvo um comício do Presidente afegão, Ashraf Ghani, que se candidata a um segundo mandato de cinco anos e que escapou ileso, e o outro aconteceu na Praça Massood, próxima da Zona Verde, onde o Ministério da Defesa, a embaixada dos Estados Unidos e o quartel-general da NATO se encontram. Ambos os atentados foram reivindicados pelos talibãs. 

Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2001 e há 18 anos que estão atolados numa guerra que, dizem os analistas militares, é impossível vencer. Os talibãs conseguiram conquistar grande parte do país após a saída dos militares norte-americanos durante a Administração Obama e as forças de segurança e armadas afegãs não têm capacidade para lhes fazer frente. Conseguem conquistar pequenas parcelas de território, mas não mantê-las por muito tempo. 

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