Rio e Cristas concordam em baixar impostos mas com diferenças

Líderes do PSD e do CDS mostraram ter poucas divergências de fundo.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

O primeiro frente-a-frente televisivo entre Rui Rio e Assunção Cristas mostrou que os dois líderes concordam mais vezes do que discordam. É assim na redução de impostos – embora a presidente do CDS sublinhasse que a sua proposta é mais “intensa” – e também na manutenção das 35 horas na função pública ainda que apresentem argumentos diferentes.

Há meses que o CDS se assumiu como a “única alternativa ao PS” quando o PSD de Rui Rio ensaiou uma estratégia de aproximação aos socialistas. Agora, em 2019, Rio diz que essa estratégia não fazia sentido por haver três eleições. Assim, o tom cordato voltou a dominar a intervenção dos dois líderes partidários depois de alguns meses de picardias (ainda que em surdina). Na questão dos impostos, Rio começou até por assinalar que “aquilo que a Assunção [Cristas] diz é matemático, temos a maior carga fiscal de sempre”. Apontou o seu cenário macro económico e as medidas fiscais daí decorrentes como “prudentes mas com ambição” e rejeitou qualquer “competição” nesta matéria. A líder do CDS concordou: “É um bom exemplo como o PSD e o CDS convergem num aspecto essencial para baixar impostos. Mas em grau diferente. E o grau de compromisso é diferente”.

Assunção Cristas considera que a proposta do CDS é “mais ambiciosa” – porque o excedente orçamental é distribuído em 60% para redução da carga fiscal e 40% para abater na dívida - ao passo que Rio explicitou que na sua proposta a folga orçamental destina-se em 25% em redução de impostos, 25% para o investimento público, 44% para a despesa corrente, e 6% para o superavit. E concluiu: “A formulação do CDS é diferente”. A líder do CDS não contrariou de forma veemente mas quis vincar o seu ponto ao dizer que a sua proposta é uma forma mais “intensa do que a do PSD”.

Outra matéria em que os dois líderes mostraram proximidade foi a das 35 horas na Função Pública. Cristas justificou a sua contestação à medida – (“um país, dois regimes”) mas argumentou que voltar às 40 horas implicaria aumentar os funcionários públicos e que essa não deve ser a prioridade para a próxima legislatura. Já Rio mantém também a discordância sobre as 35 horas, embora considere que essa reversão não deva acontecer em nome da estabilidade das políticas. “Um dos males do país é vem um governo e anula o que o outro fez e vem outro e anula o que o outro fez”, disse.

A aproximação entre as posições dos dois líderes também transpareceu na questão da regionalização, embora com nuances. Nem um nem outro concordam por princípio geral desta reforma, embora a líder do CDS tenha sido mais peremptória e tenha apontado ao Governo um processo de descentralização “falhado” (sem apontar o dedo a Rui Rio, que fez um acordo com o Governo sobre a matéria). O líder do PSD assumiu que só seria favorável se houvesse um projecto que mostrasse que a regionalização permite reduzir a despesa do Estado, já a presidente do CDS rejeitou liminarmente a possibilidade: “Regionalização quer dizer mais despesa, mais burocracia e cargos políticos e isso não ajuda o país”.

No remate final do debate, Rio foi questionado sobre como se sentirá Passos Coelho com o regresso de António Capucho ao PSD, depois de o militante ter dado apoio público a António Costa numa convenção do PS, em 2014. O actual líder social-democrata considerou que o regresso do histórico militante não é uma “afronta” ao seu antecessor e que foi expulso “injustamente”. Assunção Cristas foi interpelada sobre o “ruído” da posição assumida pelo líder da Juventude Popular em torno do despacho sobre medidas de protecção de identidade de género nas escolas, mas optou por não responder directamente à pergunta.

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