Sócrates considera “insuportáveis” ataques de Costa às maiorias absolutas

“Nunca me ocorreu vir a encontrar-me na desconfortável situação de ter de recordar a alguém que o Governo que agora maldiz foi, afinal, um Governo no qual participou”, escreve o antigo primeiro-ministro, num artigo de opinião.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O antigo primeiro-ministro José Sócrates diz ser “insuportável assistir, sem reagir” ao que considera serem “os ataques” que o actual primeiro-ministro faz “à história do PS e aos anteriores governos socialistas”, nomeadamente às maiorias absolutas.

As críticas de José Sócrates, expressas num artigo de opinião publicado este sábado no semanário Expresso, surgem em reacção às declarações do primeiro-ministro e secretário-geral socialista, António Costa, numa entrevista em que afirmou que “os portugueses têm má memória das maiorias absolutas, quer as do PSD quer a do PS”.

“Sim, não têm boa memória da maioria absoluta do PS, nem terão — pelo menos enquanto a direcção do PS se mantiver apostada em desmerecê-la, juntando-se, assim, ao discurso de todos os outros partidos que têm óbvio interesse político em fazê-lo”, escreve José Sócrates.

Mas, recorda, “essa maioria absoluta foi a única que o PS obteve em democracia; que esse Governo conseguiu, em dois anos, tirar o país do défice excessivo em que se encontrava e, no mesmo período, alcançar o maior crescimento económico verificado nesses anos difíceis (2007)”.

No artigo, o antigo primeiro-ministro confessa que nunca pensou que “as coisas chegassem a este ponto”.

“Nunca me ocorreu vir a encontrar-me na desconfortável situação de ter de recordar a alguém que o Governo que agora maldiz foi, afinal, um Governo no qual participou. Também nunca imaginei que alguém pudesse conceber como estratégia para ter maioria absoluta desacreditá-la enquanto solução política”, sublinha.

No fundo, sustenta, “o que parece querer dizer é que todas elas são horríveis — com excepção daquela que ele próprio obterá e que se diferenciará das outras justamente por ter sido obtida escondendo essa ambição e até negando esse propósito. É talvez a isto que chamam estratégia”.

Ressalvando que pretende pôr de lado as “questões pessoais”, José Sócrates diz que sente “a obrigação de dizer” que se nenhum apoio pediu à direcção do PS, também nunca esperou que esta o “atacasse de forma tão injusta, ensaiando, agora, ao que parece, um segundo andamento — a diabolização dos seus próprios governos”.

José Sócrates obteve em 2005 a primeira e única maioria absoluta para o Partido Socialista em eleições legislativas.

António Costa fez parte do Governo socialista liderado por José Sócrates, sendo o número dois do executivo como ministro de Estado e da Administração Interna até maio de 2007

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