Abutres marcados com GPS para estudar hábitos de alimentação no Vale do Côa

Actualmente, nidificam cerca de 160 casais de grifos no Vale do Côa, enquanto o efectivo destas aves no Douro Internacional é de 1600 casais nos dois lados da fronteira.

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Grifo num jardim zoológico nos Estados Unidos Ingrid Taylar

Sete abutres estão a ser seguidos no Vale do Côa, através de marcação com transmissores GPS, no âmbito de um projecto que visa estudar os hábitos alimentares daquelas aves para evitar a dispersão da espécie do seu habitat.

“Este trabalho vai permitir, em última análise, melhorar a gestão de fontes de alimento para estas aves necrófagas e apoiar a restauração de cadeias tróficas (alimentares) locais. E vai permitir reforçar o corredor de vida selvagem ao longo de 120 mil hectares de terreno no Vale do Côa”, explicou esta quarta-feira à agência Lusa Sara Aliácar, técnica de conservação em Portugal do projecto europeu Endangered Landscapes Programe, que é liderado pela Rewilding Europe. Com oito projectos na Europa, o programa terminará em 2023 e conta com um financiamento total de 2,8 milhões de euros.

“Um elemento essencial da renaturalização do Vale do Côa é a restauração das cadeias tróficas”, explicou Carlos Pacheco, biólogo associado ao projecto. “Esta marcação vai permitir-nos perceber se os grifos (abutres) estão a alimentar-se principalmente de carcaças de animais domésticos ou também de herbívoros selvagens, e com que frequência visitam campos de alimentação para abutres”, disse o biólogo.

Neste momento, as populações locais de grifos (Gyps fulvus) contam com uma rede de campos de alimentação geridos por organizações como a Associação Transumância Natureza. O grifo é uma das maiores aves existentes em Portugal e é possível encontrá-lo em quase todo o país, mas as maiores concentrações registam-se no interior Norte.

No projecto, os técnicos, através de retransmissores GPS, são capazes de seguir em tempo real a posição das aves, bem como as áreas de prospecção de alimentos, as suas espécies e o tipo de terreno onde andam à procura de comida e as distâncias percorridas.

“A equipa da Rewilding Portugal e parceiros vão trabalhar com as autoridades nacionais para desenvolver uma rede extensiva de agricultores e zonas de caça, que estejam autorizados a deixar carcaças no campo sem perturbar a saúde pública”, acrescentou Sara Aliácar.

Desta maneira, os investigadores envolvidos no projecto pretendem tornar o sistema de alimentação de grifos o mais natural possível – “o que é positivo para a conservação das espécies e para os produtores locais, pois os abutres, a consumir carcaças, desempenham um papel muito importante no controlo de potenciais focos de doenças”.

Segundo o especialista em aves necrófagas Carlos Pacheco, no Vale do Côa nidificam actualmente cerca de 160 casais de grifos, enquanto o efectivo destas aves no Douro Internacional é de 1600 parelhas em ambos os lados da fronteira.

Esta acção enquadra-se também no novo Plano de Acção para a Conservação das Aves Necrófagas, elaborado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas em colaboração com a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, publicado este mês em Diário da República.

Outro dos objectivos deste projecto é desmitificar eventuais ataques de grifos a explorações de gado. “Poderá haver a denúncia de eventuais ataques de grifos a animais domésticos vivos. Contudo, estes têm de apresentar debilidade física ou doença. Estas aves não têm capacidades para atacar animais em bom estado físico ou de saúde. Por vezes este conflito latente não tem bases científicas para ser explicado”, frisou Carlos Pacheco.

O novo plano de acção contempla o reforço da alimentação de aves necrófagas fora de campos de alimentação e uma mudança da legislação relacionada com a alimentação destas espécies. Por isso, este projecto irá também contribuir para atingir os objectivos deste novo plano de acção nacional.

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