Facebook passa a mostrar dados que recebe de outros sites

A informação vai estar toda acessível no separador “Actividade Fora do Facebook”. Inclui produtos pesquisados, páginas visitadas e compras feitas em sites que usam as ferramentas de análise de publicidade da rede social.

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A funcionalidade foi apresentada por Mark Zuckerberg na conferência anual do Facebook, em 2018 Reuters/STEPHEN LAM

A partir desta terça-feira, os utilizadores do Facebook passam a poder ver o tipo de informação que alguns sites partilham com a gigante tecnológica. Por exemplo, as páginas e produtos que as pessoas vêem ou que compram em sites onde usam as credenciais do Facebook.

A informação vai estar toda acessível no separador “Actividade Fora do Facebook”, no menu de definições da rede social. Os utilizadores na Irlanda, Espanha, e Coreia do Sul vão ser os primeiros a ter acesso – a empresa diz que o objectivo é testar a nova ferramenta em mercados com línguas distintas. 

“Um exemplo prático dos dados que recebemos começam com alguém que visita uma loja de sapatos online. Se esse site usa as ferramentas do Facebook Pixel [uma plataforma de análise de publicidade], o site pode dizer ao Facebook os sapatos que alguém adicionou ao carrinho de compras, e o tipo de calçado que pesquisou. Isto serve para que o Facebook possa mostrar publicidade relevante na rede social”, explica Stephanie Max, gestora de produto no Facebook, numa videoconferência para apresentação da nova plataforma a jornalistas. “A Actividade Fora do Facebook inclui a informação que empresas, bancos e organizações partilham connosco sobre as interacções que têm com os nossos utilizadores fora da rede social.”

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A plataforma chega primeiro aos utilizadores da Espanha, Coreia do Sul, e Irlanda

O conceito funciona graças ao Facebook Pixel, uma ferramenta de análise lançada pela rede social em 2015 que permite aos sites medir e aumentar a eficácia da publicidade que têm na rede social, ao mostrar publicidade sobre páginas especificas que os utilizadores visitaram. Também permite criar ofertas personalizadas, como descontos em produtos que foram pesquisados pelos utilizadores.

Em 2018, este tipo de funcionalidades foi alvo de atenção negativa, levando Mark Zuckerberg a anunciar a possibilidade de os utilizadores terem acesso à informação recolhida pelos sites. Na altura, a rede social era acusada de não se preocupar com a privacidade dos seus utilizadores depois de, em Março daquele ano, o escândalo Cambridge Analytica revelar que dados de milhões de cidadãos de todo o mundo foram recolhidos pelo Facebook e usados de forma abusiva para campanhas políticas. 

A ferramenta demorou um ano e meio a ser construída. “Tivemos de alterar a forma como organizávamos a informação que recebíamos”, resume Max. “O Facebook Pixel nunca foi um segredo. Aliás, as empresas que usam o Facebook Pixel têm de avisar pessoas que estão a fazer isso. Mas ainda assim há muita desinformação sobre o tema.

A União Europeia reforçou o cumprimento na regra em Julho, com um acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia que define que os sites são responsáveis pelos dados que enviam ao Facebook. Os juízes concluíram que as empresas têm de pedir consentimento aos utilizadores para enviarem informação para a rede social e que devem explicar o propósito do envio dos dados. A decisão surgiu depois de queixas de de uma associação alemã de defesa dos consumidores sobre um site de moda que transmitia dados dos utilizadores ao Facebook sem consentimento. 

Um dos objectivos da nova plataforma do Facebook é educar os utilizadores sobre este tipo de funcionalidades e dar-lhes mais controlo. Além de mostrar a quantidade e tipo de informação recolhida pelos sites que usam o Facebook Pixel, também permite “desligar” a associação. Ou seja, o Facebook deixa de saber as páginas específicas que cada utilizador visita num site, e o utilizador deixa de ter publicidade tão personalizada.

A equipa do Facebook diz que o projecto foi bem recebido pelos anunciantes e sites membros do Facebook Pixel. “A informação continua a ser recolhida”, frisa Stephanie Max. “Há uma diferença entre desconectar e eliminar. A informação não desaparece, é só desconectada da conta do utilizador. Ou seja, não conseguimos é associá-la a um utilizador específico. Sabemos que alguém anda a procurar botas novas, mas não sabemos quem é o utilizador no Facebook.”

Os utilizadores podem optar por desconectar a associação em todos os sites que visitam, ou apenas de alguns sites específicos. Por exemplo, pode-se continuar a receber publicidade personalizada de sites de roupa, mas não de uma determinada agência de viagens.

A plataforma também permite que um utilizador denuncie ao Facebook sites que não deviam estar a enviar informação. “Um exemplo são sites de pornografia”, diz Max. “Qualquer site pode usar as ferramentas do Facebook pixel, mas há informação que nós não queremos receber e programamos as ferramenta para não receber informação privada, ou dados pessoais das pessoas.”

Os utilizadores devem alertar quando estão a encontrar muitos sites e organizações que não visitam na plataforma. “Isto acontece em computadores partilhados, por exemplo, quando um marido está a navegar na Internet com a conta do Facebook da mulher ligada”, esclarece Max.

A equipa do Facebook clarifica, no entanto, que vai haver sempre alguma retenção de informação, “em casos raros”, por razões de segurança. Para já, ainda não existe informação sobre a data em que a Actividade Fora do Facebook vai estar disponível a nível global.

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