Falando sobre as alterações climáticas

Um Presidente sempre pronto a dizer o que convém e que ninguém confronta com as suas contradições.

No Dia Mundial do Ambiente, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou os jovens activistas que lutam pela justiça climática: “Em nome do planeta onde vivemos, das gerações presentes e futuras, dos nossos filhos, dos nossos netos, mas também de nós próprios, temos de mudar.” Também no seu discurso do passado dia 15, na sessão de abertura da Academia Europeia de Inovação, perante uma plateia de estudantes universitários de várias nacionalidades, apelou a uma união contra as alterações climáticas.

Porém, apenas duas semanas antes, o Presidente da República associou-se ao “júbilo da Comissão Europeia e do Governo” pelo histórico acordo de integração entre a União Europeia e o Mercosul, esperando que esta “vitória significativa do multilaterismo” traga “benefícios para as populações".

Mas como é que uma coisa se coaduna com a outra? Porque não se pergunta ao Sr. Presidente como pode considerar um sucesso um acordo que contribui massivamente para intensificar as alterações climáticas? É que o Mercosul vai promover o desmatamento progressivo da floresta amazónica para dar lugar a monoculturas e pecuária intensiva, a invasão de carne a custos irrisórios e de soja como ração para a produção de carne na Europa, para não falar no acréscimo de emissões de CO2 devido ao aumento do transporte comercial entre a América do Sul e a Europa – e tudo isto é um sucesso?

E, Sr. Presidente, já durante a sua visita a Bolsonaro, quando considerou o Mercosul e a CPLP como os únicos temas importantes, não teria sido também importante questionar os planos de expansão da agricultura na floresta amazónica, que Bolsonaro já anunciara? Conforme sabemos hoje, Bolsonaro não perde tempo a implementar esses planos: só em Junho, o desmatamento na Amazónia quase duplicou em relação ao mês anterior (88%), acompanhado pela expulsão dos povos indígenas que viviam nessas regiões. E, na mesma linha, chega a notícia de que acaba de ser nomeado um polícia para o cargo de presidente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Ninguém se atreverá a pedir explicações ao Sr. Presidente sobre as suas contradições matizadas de oportunismo?

Se é para falar em prol do clima, lembremo-nos da corajosa Greta Thunberg, que, quando lhe foi permitido falar perante a elite mundial em Davos, confrontou claramente os “poderosos do mundo” ali reunidos com a sua hipocrisia e falsidade, dizendo: “Quero que ajam como se a vossa casa estivesse a arder, porque está mesmo. Quero que entrem em pânico.”

E à pergunta de onde vinha a sua motivação, ela respondeu: “Acho tão estranho que as pessoas digam uma coisa e, ao mesmo tempo, façam o contrário.”

Não basta pois, Sr. Presidente, falar na emergência climática perante os jovens. É preciso, é urgente usar a sua influência, Sr. Presidente, para impedir leis e acordos comerciais que ameaçam dramaticamente o clima – ao invés de os apoiar.

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