Caças sul-coreanos disparam tiros de aviso contra bombardeiro russo

O avião entrou no espaço aéreo da Coreia do Sul e não respondeu às mensagens de alerta, diz Ministério da Defesa de Seul, numa zona onde há ilhas cuja soberania é disputada com o Japão

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Os caças sul-coreanos dispararam mais de 360 tiros de aviso Reuters/INTS KALNINS

Dois caças sul-coreanos dispararam esta terça-feira mais de três centenas de tiros de aviso contra um avião de vigilância russo A-50 por ter violado o espaço aéreo territorial da Coreia do Sul, diz Seul. Moscovo nega qualquer intrusão e acusa os pilotos sul-coreanos de “manobras pouco profissionais” e de terem colocado ameaçado a “segurança” das suas tripulações. É o primeiro incidente do género entre Moscovo e Seul.

O A-50 russo voou nas proximidades de ilhas disputadas no Mar do Japão entre a Coreia do Sul e o Japão – Seul chama-lhes Dokdo e Tóquio Takeshima – e permaneceu no espaço aéreo durante sete minutos. Foi interceptado por dois caças sul-coreanos F-15 e F-16, que dispararam dez foguetes e 80 tiros de aviso. A aeronave russa abandonou o espaço aéreo territorial, mas acabou por regressar poucos minutos depois, obrigando os caças a dispararem mais 280 tiros de aviso, segundo o Ministério da Defesa sul-coreano.

Pouco antes, os quatro bombardeiros russos e chineses tinham entrado na zona de identificação aérea sul-coreana – área delimitada pelos Estados para se identificar aeronaves e acidentes no seu espaço aéreo – a partir da costa leste e por lá permaneceram mais de 80 minutos. É incomum que aeronaves russas voem naquela zona e ainda mais que o façam lado a lado com aviões chineses, como aconteceu, segundo o Ministério da Defesa sul-coreano.

Seul convocou o embaixador russo e chinês para lhes apresentar protestos formais e deixou sérios avisos para que não voltasse a acontecer. “Vemos este incidente com muita preocupação e vamos tomar fortes medidas para que actos como este não se venham a repetir”, disse o conselheiro de segurança nacional sul-coreano, Chung Eui-yong, citado pelo porta-voz presidencial Ko Min-jung.

O Ministério da Defesa russo negou em comunicado qualquer intrusão, dizendo que os seus aviões sobrevoavam águas internacionais, e acusou os dois caças sul-coreanos de terem feito “manobras pouco profissionais, atravessando a rota das aeronaves russas e pondo em risco a sua segurança”. Moscovo frisou ainda que não reconhece a zona de identificação aérea sul-coreana, que os seus militares permaneceram a uma distância superior a 25 km das ilhas disputadas e que se limitaram a participar num exercício militar planeado.

Porém, realça o Washington Post, Moscovo não se referiu ao A-50 nem à sua intercepção pelos caças sul-coreanos. O avião de vigilância russo consegue interceptar comunicações e detectar alvos no ar e em terra.

O incidente aconteceu numa zona marcada por disputas territoriais entre a Coreia do Sul e o Japão, em que é frequente aviões chineses fazerem incursões. A recente presença russa acrescenta mais uma peça ao já de si sensível xadrez da área.

“Seul tem ficado cada vez mais incomodada com as incursões chinesas no seu espaço aéreo, incluindo de aviões espiões, e tem levantado o assunto com Pequim”, escreveu a analista Laura Bicker na BBC. No ano passado, Moscovo e Pequim realizaram pela primeira vez um exercício militar conjunto de grande escala, chamado VOSTOK. “Foi uma oportunidade de mostrarem a sua aliança e força combinada. Voltaram-no a fazer agora sobre a Península da Coreia”.

“É para lá da imaginação acreditar que seja uma mera coincidência tanto para a China como para a Rússia fazerem-no no mesmo dia”, disse Jeffrey Hornung, cientista político da RAND Corporation, ao Washington Post, sublinhando que tudo indica ter sido propositado para prejudicar as frágeis relações diplomáticas entre Seul e Tóquio.

Coreia do Sul e Japão entraram recentemente num clima de guerra comercial por Seul exigir novas compensações financeiras para além do já acordado pelo uso forçado de trabalhadores e de mulheres coreanas como prostitutas ("mulheres de conforto") do exército japonês durante a ocupação. Sabendo-o, Rússia e China podem estar a tentar aprofundar ainda mais as divergências entre dois dos principais aliados dos Estados Unidos na Ásia-Pacífico.

Tóquio não gostou que os caças sul-coreanos tivessem disparado tiros de aviso para uma aeronave russa no que diz ser o seu espaço aéreo – embora as ilhas estejam sob controlo efectivo da Coreia do Sul desde 1954 – e apresentou um protesto formal tanto à Coreia do Sul como à Rússia, segundo a Kyodo News.

“À luz da posição do Japão sobre a soberania de Takeshima, é totalmente inadmissível e profundamente lamentável que aviões militares sul-coreanos tenham disparado tiros de aviso”, afirmou o ministro da Presidência do Conselho de Ministros japonês, Yoshihide Suga, citado pela BBC.

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