Rio e o Ministério da Doença e sabe-se lá o que mais

Um dos problemas de Rui Rio, e quem nos dera que fosse o principal, é que gosta de dizer piadas convencido que as pessoas entendem piadas vindas de um candidato a primeiro-ministro.

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Rio apresentou as suas políticas de saúde e a Vanessa apareceu-me em casa. Tocou à porta sem telefonar primeiro, ou mandar mensagem no chat, o que é uma coisa demasiadamente século XX, até para mim. Quando alguém toca sem avisar ou é o correio ou os vizinhos de baixo porque lá deixei cair mais um lençol no quintal e eles são queridos. Até o estafeta da Glovo avisa que está a chegar. Com um toque irritante e prolongado na campainha, a Vanessa atrapalhou-me a minha zona livre de ruído em excesso.

— Ouviste o Rui Rio? O que é aquilo de criar o Ministério da Doença?

— Vanessa, isso era uma piada. 

— Uma piada?

Um dos problemas de Rui Rio, e quem nos dera que fosse o principal, é que gosta de dizer piadas convencido que as pessoas entendem piadas vindas de um candidato a primeiro-ministro. 

— Mas ele não quer mudar o nome ao Ministério da Saúde?

— Quer, mas não é para Ministério da Doença. Isso era piada. Parece que está hesitante entre “Ministério para a Promoção da Saúde” ou “Ministério da Promoção da Saúde e Bem-estar”. 

— Ele defende uma coisa assim tipo wellness?, perguntou-me a Vanessa. 

— Não, não acredito que consiga distribuir Spas por todo o Serviço Nacional de Saúde.

Mas a Vanessa achou que seria uma boa ideia. O “bem estar” devia ser democratizado. Qualquer doente do SNS devia ter direito a massagens com chocolate. E no entanto se nem a saúde mental tem lugar no SNS presente, dada a rarefacção de psiquiatras e psicólogos, como é que Rio se iria dedicar ao “bem-estar"?

— Oh, Vanessa, eu acho que aquilo não é bem massagens. É mudar de nome. Não conheces o clássico mais clássico das organizações? Quando não se sabe o que fazer, muda-se o nome. 

— Mas olha que eu gosto daquilo do bem-estar. Achas que ele opta por “promoção da saúde” ou “bem-estar"?

— Não acho nada.

— Mudar os nomes aos ministérios não tem nada de mal! Tu é que és conservadora e chata. 

E aqui a Vanessa começou a defender Rui Rio e a insultar-me com pouca delicadeza. Eu sabia que aquilo de tocar à campainha sem avisar não ia correr bem.

— Estive aqui a pensar. Tenho outras ideias para o Rui Rio. Ele tem algum email para onde se possam mandar ideias?

— Deve ter. 

— Vou escrever-lhe:

“Caro dr. Rui Rio. Acho que faz muito bem em mudar os nomes dos ministérios. Eu já estou cansada destes nomes que são intrinsecamente lisboetas, o que é um grande defeito. Sugiro que o Ministério da Justiça passe a ser “Ministério contra as corporações judiciárias que mandam no país”; o Ministério das Infra-estruturas mude para “Ministério das Obras que não sejam de Santa Engrácia como a ferrovia”; o Ministério da Educação se transforme em que “Ministério dos alunos e dos Professores que terão a carreira completa quando houver dinheiro como eu sempre disse e não recuei”; o Ministério da Cultura passe a “Ministério contra os subsidiodependentes que lêem romances e são de esquerda”. E o Ministério das Finanças porque não passar a “Ministério da redução de todos os impostos"? Tenho mais algumas ideias. Se estiver interessado, avise. Vanessa”.

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