Ex-autarca diz que “o PS de Braga não pode estar nas mãos de um cacique”

Ex-presidente da Câmara de Guimarães, António Magalhães, acusa líder da distrital de ter “uma escolha selectiva com alguns contornos absolutamente abjectos e que ninguém trava”.

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António Magalhães presidiu à Câmara de Guimarães durante seis mandatos HUGO DELGADO / PUBLICO

A uma semana do PS fechar as listas de deputados para as legislativas, dois ex-presidentes de câmara do distrito de Braga lançam um derradeiro apelo à direcção nacional para que faça alterações à lista, que dizem ser “feita na lógica do favorzinho, deixando de fora os melhores”.

“Se tivéssemos Jorge Coelho na direcção o partido, não tenho dúvidas de que ele vinha por aí acima, devidamente mandatado, e punha as coisas nos eixos como aconteceu uma vez”, proclama o ex-presidente da Câmara de Guimarães, António Magalhães, que lamenta que a cúpula do partido não tome uma posição perante o descontentamento dos militantes. “Quem tem responsabilidades no PS a nível nacional que acorde”, avisa, em declarações ao PÚBLICO.

“Não há uma hierarquia intermédia que venha mandatada pelo secretário-geral para travar as escolhas do presidente da distrital de Braga, Joaquim Barreto”, acrescenta António Magalhães, referindo-se à lista de deputados como “uma escolha selectiva com alguns contornos absolutamente abjectos e que ninguém trava”. “Tenho vergonha daquilo que se está a passar com a lista”, desabafa o socialista que integra a comissão nacional.

Salvaguardando que a questão de fundo em Braga vai além da lista de deputados, o ex-autarca denuncia que Joaquim Barreto tem uma “liderança clientelar” e responsabiliza-o pela derrota eleitoral nas autárquicas de 2017, ano em que o PS perdeu três presidências de câmara: Amares, Terras do Bouro e Vizela. “Números redondos, perdemos 45.800 votos”, contabiliza António Magalhães, para quem a “derrota autárquica deveria ter alertado a cúpula do partido para aquilo aconteceu e questionar os responsáveis”.

Acreditando que o PS ainda está a tempo de evitar “mais derrotas”, o ex-presidente da Câmara de Vizela, que integra a estrutura distrital de Braga deixa um desabafo à direcção de António Costa: “Quero ser um cidadão livre num partido que se diz democrata, mas que em Braga não o é e isso é uma vergonha. Um partido com as características do PS não pode entregar-se nas mãos de um cacique”, diz Dinis Costa.

Contra uma lista de deputados que afirma ser feita com base no “amiguismo puro”, Dinis Costa não poupa o líder distrital e declara que é preciso acabar com o “feudo de Joaquim Barreto em Braga”. Desiludido com o rumo que o PS tem seguido, o ex-autarca refere-se ao também deputado como alguém que “usa truques políticos” e que “só gosta de subserviência”.

Os ecos da tensão que se instalou no PS de Braga por causa da lista de deputados já chegaram a António Costa, que tem a última palavra sobre as listas, tanto por e-mails, como por SMS.

O PÚBLICO questionou Joaquim Barreto sobre o mal-estar que varre o partido e as acusações de que é alvo e sobre estas disse: “A hierarquia dos valores pelo respeito da ética, da democracia e da liberdade, estão acima de outras questões, nomeadamente de interesses de ordem pessoal” e aproveitou para dizer que sábado houve uma reunião com as concelhias, com a excepção de Barcelos e Amares, “para preparar o trabalho e os procedimentos para as eleições legislativas”.

Barreto foi um dos deputados que marcou presença esta segunda-feira na visita que o primeiro-ministro fez ao Norte no âmbito da inauguração dos 56 quilómetros de via electrificada nas linhas do Douro e do Minho.

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