Subir à cúpula e ver o Porto: no renovado Pavilhão Rosa Mota também haverá experiências radicais

Música, desporto, congressos. E vistas de 360 graus sobre o Porto. Entre gruas e rebarbadoras, programação do renovado Pavilhão Rosa Mota já ganha forma. Breve visita ao emblemático espaço da cidade a três meses da inauguração

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Quem observa a cúpula com 768 pequenas aberturas circulares no interior do Pavilhão Rosa Mota ainda não encontra as telas que nelas serão colocadas de modo a garantir que o interior do edifício possa ficar totalmente às escuras. Este tecto emblemático foi um dos desafios maiores da obra de arquitectura e engenharia que projectou uma reabilitação total do interior do pavilhão. Mas outros houve que atrasaram o prazo inicial de concretização da empreitada, inicialmente prevista para Maio. Agora, a menos de três meses da inauguração, o consórcio responsável pela obra e exploração do espaço abriu as portas aos jornalistas para uma breve visita. E entre o som de rebarbadoras e martelos, disse ter uma agenda a ganhar forma. Espectáculos no segredo dos deuses, para já, mas com a vaidade assumida de ali estar prestes a renascer uma sala polivalente como a cidade não tem igual.

Para Jorge Silva, da PEV Entertainment, que com a Lúcios compõe o consórcio Porto Cem Por Cento Porto, o Pavilhão Rosa Mota era “um espaço muito bonito, mas disfuncional”. A partir de Outubro, será “aquilo que o Porto não tem há muitos anos”, acredita. Haverá música, desporto, espectáculos familiares, feiras, congressos. E ainda a “experiência radical, mas com total segurança”, de “visitar o tecto do edifício e ter uma noção exacta do que é o Porto”, revelou Jorge Silva, falando de um cenário privilegiado de “360 graus”.

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Durante 20 anos será o Cem Por Cento Porto o responsável pela gestão do espaço, que regressa depois às mãos da câmara. Até lá, Rui Moreira diz que vai encaixar nos cofres camarários quatro milhões de euros (com uma renda mensal de 20 mil euros, actualizada à taxa de inflação), decorrente do contrato com esse consórcio, que permite ao município utilizar o espaço alguns dias por mês.

No agora baptizado Super Bock Arena Pavilhão Rosa Mota haverá, contando com esse piso de visitas, quatro níveis: o primeiro, com tribunas, o segundo onde ficam 23 camarotes, e o terceiro, também com tribunas. Para alguns eventos há ainda a possibilidade de usar uma bancada extra, que é retráctil e cresce para cima da arena central. A capacidade varia entre os 5500 lugares (sentados) e 8000. Neste mesmo piso 0, há espaço também para exposições.

Quatro gruas extensíveis estão estacionadas na arena. Há sacos de material de construção, trabalhadores de coletes amarelos um pouco por toda a parte. Na cúpula, avista-se ainda a lã de rocha com mais de 40 centímetros, escolha dos engenheiros da obra para garantir que a acústica do edifício será adequada para qualquer espectáculo, sobretudo musical. Nas próximas semanas, este material será coberto por uma tela acústica. Mas sem tapar os óculos. Nestes, cujos vidros foram todos substituídos para tornar o edifício mais eficiente, será aplicado uma espécie de black-out, garantindo que a sala possa ficar completamente às escuras. Estas aberturas circulares podem ser abertas se for necessário. Mas num exercício que se prevê demorado e de paciência, já que não haverá nenhum mecanismo automático para isso. Terão de ser abertos um a um e à mão, revelaram os responsáveis do consórcio, desvalorizando o assunto por garantirem que 99% dos espectáculos são feitos sem luz. 

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No subsolo, piso que até agora era sobretudo usado para arrumos e casas de banho, a revolução foi grande. Filipe Azevedo, da empresa de construção Lúcios, descreveu uma difícil operação de engenharia: “depois de seis meses de escavação em rocha”, revelou, conseguiu fazer-se um um rebaixamento do piso que permitiu ter um pé direito capaz de ali instalar um auditório para 500 pessoas. A estrutura metálica é já visível e Filipe Azevedo acredita que esta parte da obra estará concluída em cerca de um mês. Neste mesmo piso haverá ainda mais quatro salas, cada uma com capacidade para cem pessoas, uma zona de exposição de 600 metros quadrados, balneários, camarins, e salas de apoio. O restaurante, com vista para os jardins do Palácio de Cristal, terá 300 metros quadrados e uma esplanada de 400 metros quadrados.

O investimento previsto de oito milhões de euros terá sido ultrapassado – em quanto o consórcio prefere não revelar –, mas o balanço é positivo: tendo em mãos o desafio de “mexer numa peça tão emblemática como o Palácio de Cristal”, Filipe Azevedo acredita ter conseguido transformar o espaço respeitando a sua identidade mas melhorando-o, dando “o conforto e características térmicas e acústicas de que precisava”.

Há cerca de um mês, anunciou-se a realização do evento WordCamp EU (para os dias 4 e 6 de Junho de 2020) no renovado pavilhão portuense. Mas a menos de três meses da inauguração, o consórcio prefere manter o secretismo em relação à agenda e revela apenas que o espectáculo de abertura deverá ter um “componente forte de música”, deixando no passado as memórias de uma sala onde, pelas fracas condições acústicas, era “um sacrifício tocar”. Palavra a Jorge Silva, levantando pouco o véu e prometendo novidades para breve: será “um evento referencial, mobilizador, que diga qualquer coisa às gentes do Porto.”

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