Carlos César anuncia saída do Parlamento, mas não da vida política

O líder parlamentar socialista não será candidato nas próximas eleições legislativas. A decisão foi anunciada pelo próprio no jantar do grupo parlamentar do PS.

Fotogaleria
LUSA/NUNO ANDRE FERREIRA
Fotogaleria
Costa foi dar um cumprimento especial a César no final do último debate do estado da Nação desta legislatura Nuno Ferreira Santos

Durante meses foi alimentando o tabu. Chegaram a dá-lo como possível candidato à presidência da Assembleia da República, mas nos últimos tempos foi mostrando que o caminho poderia passar por outro lado. Carlos César anunciou esta noite que não será candidato nas próximas eleições legislativas de Outubro, saindo assim do Parlamento onde entrou depois das eleições de 2015.

Lembrando que no fim-de-semana o PS Açores vai decidir os seus candidatos a deputados, decidiu informar os actuais parlamentares: “É por isso um dos locais próprios, para vos dar conta de uma decisão que tomei, desde os primeiros momentos em 2015 e que transmiti ao secretário-geral e em Fevereiro do ano passado e que tem a ver com o facto de não ser de novo candidato à Assembleia da República pelos Açores e não ser também por outro círculo”. Atribuiu esta circunstância a algo que diz ver como “virtude” : “Sou incorrigivelmente açoriano.”

“É tempo de dar lugar a outros. O PS deve prosseguir o caminho de renovação que está a fazer”, disse. “Não me excluo da participação política, das minhas responsabilidades cívicas, fá-lo-ei enquanto presidente do partido, enquanto o for, e enquanto cidadão. Vou continuar empenhado”, garantiu.

No discurso aos deputados, César falou de uma “legislatura especialmente complexa e especialmente trabalhosa”. Muitas vezes com “sucesso”, entre esses sucessos entra a “paciência”. “Fizemos exercício de paciência, não digo com quem para não comprometer soluções futuras”, disse provocando risos na sala. Antes de anunciar, César agradeceu a jornalistas, funcionários, deputados, a Ferro Rodrigues e em especial a António Costa, “sem outro interesse que não seja fazer justiça à minha consciência”. Esta é uma “amizade velha, mas não envelhecida. Estou convencida que os portugueses partilham da apreciação que fazemos”, disse.

Depois de um discurso curto e muito aplaudido, Costa subiu ao palco para agradecer aos deputados e afirmar que está em “estado de emoção”. Costa contou que ao longo destes anos tem tentado convencer César a ficar, mas que, apesar de o “optimismo não ter permitido desistir de insistir, a determinação de Carlos César venceu”.

Costa elogiou a decisão do presidente do partido com um elogio à sua “clarividência”. “Sempre tive uma enorme admiração por Carlos César”, referiu. “Percebo muito bem, respeito muito, como camarada e amigo, a decisão que Carlos César tomou”.

No final, deixou o maior dos elogios: "Estes quatro anos não teriam sido possíveis sem a palavra, o conselho de Carlos César”. 

Costa pediu ainda a César que dê ao Governo um “belíssimo final de legislatura”, com a aprovação de propostas do Governo que ainda estão pendentes para aprovação, nomeadamente a Lei de Bases da Saúde que ainda não foi aprovada.

Mesmo que não o seja, Costa deixa o balanço final: "Para mim estes quatro anos foram absolutamente inesquecíveis e o apoio do PS e do grupo parlamentar à acção do Governo foi inexcedível. Não tenho forma de exprimir a gratidão que tenho”.

Ainda há semanas, numa entrevista ao PÚBLICO, César mantinha o suspense, mas levantava o véu para o facto de poder estar de saída. Quando questionado sobre o facto de poder ir para presidente da Assembleia da República, César respondeu: “Já disse que não estou a exercer este cargo pensando noutro. E já disse que o primeiro-ministro e secretário-geral do PS é conhecedor das minhas disponibilidades ou da falta delas para o futuro. E já que está a referir-se a essa matéria - e tendo em conta notícias que li nos jornais -, eu não tenho nem nunca tive qualquer disputa com Eduardo Ferro Rodrigues para esse ou para outro qualquer cargo político. Aliás, aprecio muito a sua actividade como presidente da Assembleia, para a qual, registe-se, contribuí decisivamente, antes e depois de ele ser candidato”.

Para a despedida tinha no jantar não só os deputados e ex-deputados desta legislatura, como o filho, Francisco César, actual líder parlamentar do PS Açores, e Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional dos Açores, que sucedeu a César no cargo em 2012.

Foi com António Costa que Carlos César se tornou presidente do PS, cargo que manterá. O facto de não ser candidato a deputado não fecha, no entanto, a porta a outros cargos, como por exemplo no próximo executivo.

Sugerir correcção
Ler 18 comentários