Wu Lei, o melhor jogador chinês da actualidade, dá razão a Paulo Futre em Espanha

Avançado de 27 anos é jogador do Espanyol desde Janeiro. Após contratação, clube registou aumento de seguidores nas redes sociais e venda recorde de camisolas. Mercado português ainda não está suficientemente desenvolvido para copiar manobra.

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Apresentação do jogador no Espanyol Reuters/ALBERT GEA

“Vamos trazer para o Sporting o melhor jogador chinês da actualidade”. Apesar de já terem passado oito anos desde que Paulo Futre proferiu estas palavras, a frase ficou gravada na memória dos adeptos do futebol português. Claramente entusiasmado, apresentava aos sócios a estratégia da lista de Dias Ferreira para as eleições presidenciais dos “leões” de 2011. O antigo avançado previa novos patrocinadores, charters e comissões que recheariam os cofres “leoninos” com a entrada do novo atleta no plantel. Godinho Lopes acabaria por ser eleito presidente do Sporting e a ideia guardada no baú.

Em Espanha, porém, o Espanyol passou das palavras à acção. Em Janeiro, Wu Lei, avançado chinês de 27 anos que representava o Shanghai SIPG, formação orientada por Vítor Pereira, fez a transição para o emblema catalão, chegando com as credenciais de melhor marcador e melhor jogador da Superliga chinesa em 2018. A aposta era evidente: abrir o mercado asiático e atrair adeptos chineses.

Nas primeiras horas após o anúncio da contratação de Wu Lei, o sistema informático do Espanyol não conseguiu aguentar o fluxo de tráfego: milhares de pessoas, desejosas de adquirir a nova camisola do compatriota, entupiram o site oficial do clube. Em quatro meses, foram vendidas 20 mil camisolas com o número 24, um registo superior à soma de todos os restantes jogadores do plantel. Na estreia, de acordo com dados avançados pelo clube, 40 milhões de pessoas na China sintonizaram a partida entre o Espanyol e o Villarreal.

“Ao princípio, esta abordagem poderia parecer uma obrigação dada a nacionalidade do nosso presidente, mas sabíamos que era uma grande oportunidade. Agora, qualquer acção sem ter a China em consideração parece estranha”, afirma Agustí Filomeno, director do departamento de marketing e vendas do emblema catalão, citado pelo El País. O Espanyol é detido desde 2016 pelo empresário chinês Chen Yansheng, que tem injectado no clube parte da fortuna, avaliada em mil milhões de euros pela Forbes.

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Clube registou aumento de espectadores e receitas com merchandise Albert Gea / Reuters

Réplica em Portugal? “Provavelmente, não”

As políticas de comunicação do clube mudaram em função do novo reforço. Os seguidores asiáticos aumentaram e as publicações do emblema catalão passaram a incluir traduções em mandarim. Daniel Sá, especialista em marketing desportivo e director-executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), não se mostra surpreendido com o efeito registado por Wu Lei na Catalunha: “Este caso não é único. Temos visto, não apenas com chineses, mas com atletas de outras nacionalidades a terem um efeito enorme nos clubes que os contratam.”

Apesar de apontar ao FC Porto um incremento de popularidade semelhante ao do Espanyol com a contratação de vários jogadores mexicanos, Daniel Sá defende que, em Portugal, ainda não seria possível registar uma escala de crescimento tão acentuada como no país vizinho. “Se em Portugal teríamos o mesmo efeito? Diria que, provavelmente, não. Há aqui muito mérito da La Liga que, já há vários anos, faz promoção a nível mundial. Algo que não é feito cá. O caminho está facilitado para os clubes espanhóis, porque a Liga tem a responsabilidade de internacionalizar a competição. Os resultados são mais imediatos”, explica ao PÚBLICO.

Coincidência ou não, o Espanyol, 12 anos depois, volta a assegurar um lugar europeu, terminando a época na quinta posição. Wu Lei, pela primeira vez numa carreira que começou quando tinha 14 anos, vai ter a possibilidade de demonstrar o seu talento na Liga Europa. A UEFA e os patrocinadores provavelmente agradecem.

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