Os "charters de chineses" estão a caminho de Barcelona

Para além dos empréstimos de Ferreyra e Alfa Semedo, o Espanyol contratou Wu Lei, considerado o melhor jogador chinês da actualidade.

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LUSA/Andreu Dalmau

O Sporting nunca chegou a contratar o melhor jogador chinês da actualidade (contratou o melhor indiano, mas não era a mesma coisa), os “charters” não vieram e não chegou a haver o departamento do jogador chinês em Alvalade. Mas este plano, idealizado por Paulo Futre em 2011 numas eleições “leoninas” que o seu candidato (Dias Ferreira) não ganhou, vai ser seguido em 2019 pelo Espanyol de Barcelona, que contratou nesta janela de Inverno do mercado de transferências Wu Lei, um avançado de 27 anos, pagando dois milhões de euros ao Shangai SIPG. Pode haver um benefício desportivo imediato – Lei é um jogador feito e foi o melhor marcador da liga chinesa em 2018 -, mas o clube catalão, que tem um dono chinês, está a pensar para lá disso.

É mais que justo considerar Wu Lei o melhor jogador chinês da actualidade, até porque não há assim tanto por onde escolher. Conhecido desde o início de carreira como o “Maradona chinês”, Wu Lei foi o melhor marcador da Superliga chinesa em 2018 (27 golos) e ajudou o Shangai SIPG, treinado por Vítor Pereira, a conquistar o seu primeiro título de campeão – claro que muitos destes golos, senão todos, resultaram de assistências de Óscar e Hulk. E só o facto de ser o melhor marcador da temporada e o melhor goleador da história da Superliga chinesa (onde os grandes goleadores costumam ser estrangeiros) já faz de Wu Lei um futebolista diferente dos seus compatriotas.

Numa altura em que a China investiu forte no futebol em vários domínios (clubes endinheirados com apoio estatal, participação em vários clubes da Europa, investimento em infra-estruturas e formação dos seus jovens jogadores no estrangeiro), Wu Lei emergiu como uma “estrela” formada localmente. É o mais jovem jogador de sempre a estrear-se numa equipa profissional da China, fazendo o seu primeiro jogo pelo Shanghai SIPG com 14 anos e 286 dias. A equipa estava, na altura, na terceira divisão e Wu Lei foi segurando o lugar à medida que o Shanghai SIPG subia na hierarquia e foi tendo mais fundos para contratar vedetas estrangeiras.

Wu Lei diz que tem tido muitas ofertas do futebol europeu e falou-se no passado Verão que poderia ir para o Wolverhampton Wanderers, também detido por uma empresa chinesa, a Fosun. Mas acabou por ir parar ao “outro” clube de Barcelona, o Espanyol, presidido desde 2016 pelo empresário Chen Yansheng, que sempre teve um sonho de contratar um seu conterrâneo para o clube. Lei não vai ser um pioneiro na liga espanhola, mas quase. Antes dele, apenas Zhang Chengdong (que esteve vários anos em Portugal) fez quatro jogos pelo Rayo Vallecano em 2015-16, e é residual a presença de futebolistas chineses nos grandes campeonatos europeus – e todos os jogadores da selecção chinesa que participaram na Taça da Ásia jogam no seu país.

A imprensa espanhola diz que Wu Lei ganhava na China um salário anual de oito milhões de euros, um valor que o Espanyol dificilmente pagará, mas o clube compensará o jogador com a cedência da totalidade dos seus direitos de imagem – muito valiosos, já que falamos de um ícone desportivo do país mais populoso do mundo. E também passa por aqui a estratégia do Espanyol, o de chegar às centenas de milhões de consumidores chineses. Desde que Lei foi contratado, houve um crescimento do número de seguidores chineses nas páginas do Espanyol nas redes sociais e uma enorme procura de camisolas do clube com o número 24 e o nome de Lei.

Ao contratar o “Maradona chinês”, o Espanyol espera repetir na Catalunha o “efeito Yao Ming”, a “estrela” chinesa do basquetebol que fez da NBA uma das ligas desportivas internacionais mais populares do país. E é preciso não esquecer que Ming, um poste de 2,29m de altura, era um jogador excepcional que só não teve uma carreira mais longa por causa das lesões. Com Wu Lei, que terá a companhia dos benfiquistas Ferreyra e Alfa Semedo, o Espanyol tem, não apenas um trunfo comercial, mas também um trunfo desportivo – e bem precisa, estando apenas três pontos acima da linha de água na liga espanhola. A experiência internacional de Wu Lei, que assinou por três épocas e meia, também pode não correr bem e, se isto acontecer, de certeza que a China o irá receber de braços abertos.

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