Ex-bastonário dos médicos: “Ou deixamos de nos entrincheirar em questões ideológicas ou vamos ter muitos problemas”

Germano de Sousa defendeu que é preciso união para responder às necessidades dos doentes. Associações vão lançar um plano integrado para as doenças raras.

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A ministra da Saúde com os membros da comissão organizadora Eurico Castro Alves, Miguel Guimarães e Orlando Monteiro da Silva LUSA/RUI MINDERICO

O antigo bastonário dos médicos Germano de Sousa defendeu esta terça-feira, na Convenção para a Saúde, que se realiza em Lisboa, que é preciso dar solução às necessidades dos doentes. O médico lembrou que a Constituição prevê que se garanta saúde gratuita a todos os portugueses, mas não define a forma como esta é dada.

“Temos de encontrar uma solução para quem precisa. Temos de encontrar uma solução e deixarmos de nos entrincheirar em questões ideológicas ou vamos ter muitos problemas. Como vamos pagar as novas moléculas muito caras que são muito eficazes? A medicina personalizada? Porque é que não nos unimos todos e nos deixamos de querelas?”, questionou o ex-bastonário dos médicos, que fez o comentário final da sessão Por um Acesso à Saúde Igual em todo o Território.

Com o mote “A Agenda da Saúde para o Cidadão”, a Convenção Nacional debate esta terça-feira vários temas centrados no doente. Questão que Germano Sousa focou. “Não tem havido uma preocupação eficaz para resolver os problemas da doença crónica”, disse. O ex-bastonário pegou nas intervenções dos vários especialistas que participaram na sessão para reforçar que é preciso repensar a saúde.

“Precisamos de fixar médicos. Mas como? Dar ordenados? E os especialistas, quando não há condições? Tudo isto tem de ser altamente repensado. Temos de ter noção que o Serviço Nacional de Saúde e o sistema de saúde têm de se complementar um ao outro.” O médico lembrou os tempos de espera prolongados para a realização de consultas da especialidade que os doentes têm de enfrentar.

“Não seria mais simples o otorrino estar no centro de saúde, convencionado ou não? Quando aprendemos que temos de levar os médicos para junto dos doentes e ao mesmo tempo pagar em função do que fazem?”, questionou.

A questão dos cuidados informais também não passou em branco. “São fundamentais”, afirmou. “Devia estar na Lei de Bases da Saúde. Um cuidador informal precisa de ser apoiado por médicos em exames domiciliários. Isto não está previsto. Tudo tem de ser repensado”, defendeu.

Plano integrado para as doenças raras

Este é o terceiro encontro da Convenção Nacional da Saúde. O primeiro realizou-se no ano passado, de onde saiu em Dezembro uma agenda para a década que foi entregue ao Presidente da República. O actual encontro é focado nos utentes numa agenda da saúde para o cidadão.

Na sessão de abertura, Maria do Rosário Zinke dos Pais, da Associação Alzheimer e membro da direcção da Plataforma Saúde em Diálogo, lembrou que cerca de 86% das mortes na Europa são provocadas por doenças crónicas e que estas patologias representam cerca 80% dos custos do sistema de saúde. “As doenças raras podem atingir, em Portugal, 6% da população. Têm um impacto na saúde e na economia que não pode ser ignorado e deve ser um desafio a ser integrado. Queremos um acesso universal e cuidados integrados”, defendeu.

“Os doentes só podem estar no topo das prioridades. Temos de ter políticas que queremos apartidárias e com consensos entre os vários partidos. As associações de doentes propõem-se a lançar hoje, em forma de recomendação, um plano integrado para as doenças crónicas e raras que a integrará a agenda para a década”, anunciou.

Também Manuel Pizarro, que falou na qualidade de alto-comissário da Convenção, considerou que é preciso “mais articulação no Serviço Nacional de Saúde”, entre os vários tipos de cuidados, e “de mais articulação entre o sistema público, privado e social”. “A articulação funciona bem a favor das pessoas e do país. Funciona bem no SIGIC [sistema integrado de gestão de inscritos para cirurgia], no acordo com as misericórdias e devemo-nos inspirar nestes exemplos para desenvolver o SNS e um sistema que servia os utentes”, afirmou.

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