Nem o mau tempo trava os protestos em Hong Kong

Milhares voltam a sair às ruas. Quarta-feira será dia de greve contra proposta de lei prevê que cidadãos detidos em Hong Kong possam ser julgados na China.

Protestos nas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição para a China
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Protestos nas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição para a China Reuters/JAMES POMFRET
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Protestos nas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição para a China Reuters/TYRONE SIU
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Protestos nas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição para a China EPA/EDWIN KWOK
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Protestos nas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição para a China EPA/JEROME FAVRE
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Protestos nas ruas de Hong Kong contra a lei de extradição para a China EPA/JEROME FAVRE

Apesar do mau tempo que se faz sentir em Hong Kong, onde chove torrencialmente, milhares de pessoas voltaram a sair às ruas esta terça-feira para protestar contra o projecto de lei que abre a porta à extradição para a China, para julgamento, de pessoas detidas no território autónomo. 

A chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, já disse que vai manter a proposta de lei, apesar das profundas preocupações geradas no centro financeiro asiático, onde no domingo decorreu a maior manifestação política desde a entrega da administração britânica do território à China, em 1997.

“Quando a lei de extradição for aprovada, Hong Kong vai-se tornar uma ‘inútil Hong Kong’”, disse o coordenador da Frente Civil de Direitos Humanos da região, Jimmy Sham, principal organizadora da manifestação de domingo. “Estaremos enterrados num lugar onde os investidores estrangeiros estarão com medo de investir e os turistas com medo de nos visitar. A ‘Pérola do Oriente’ vai-se tornar em nada”, reforçou o activista.

Os líderes empresariais de Hong Kong também se manifestaram, alertando que a aprovação da lei de extradição poderá diminuir a confiança dos investidores na região e eliminar as suas vantagens competitivas. O projecto de lei, que gerou uma ampla oposição doméstica e internacional, vai ser discutido esta quarta-feira pelo Conselho Legislativo de Hong Kong, onde as forças pró-Pequim detêm a maioria.

A manifestação de domingo, que segundo a orgnização terá mobilizado mais de um milhão de pessoas, vem colocar em causa a autoridade e capacidade governativa de Carrie Lam, que tem advertido contra a “radicalização” dos protestos.

Os protestos desta terça-feira no centro da cidade, onde se localizam os escritórios de algumas das maiores casas financeiras do mundo, como o grupo financeiro HSBC, foram largamente pacíficos. Um forte contigente de segurança esteve concentrado em torno do edifício do Conselho Legislativo, onde esta quarta-feira deverá ocorrer uma nova manifestação, com uma petição na Internet a sugerir o cerco daquela assembleia.

Cânticos, revistas e detenções

Apesar do mau tempo, vários manifestantes cantaram debaixo dos seus guarda-chuvas, enquanto as autoridades verificavam de forma aleatória a identidade de quem protestava. Dezenas de pessoas terão sido detidas por agentes à paisana, sobretudo junto a estações de metro. A Frente Civil de Direitos Humanos condenou a operação policial, acusando as autoridades de dissuadirem a participação em manifestações pacíficas.

Para esta quarta-feira, e para além do protesto junto ao Conselho Legislativo, esperam-se greves e actos de boicote nos transportes públicos. Empresas, estudantes, assistentes sociais, professores e outros grupos profissionais prometem também parar para protestar contra o projecto-lei. Quase duas mil negócios privados locais – como restaurantes, mercearias, livrarias e cafetarias – anunciaram a intenção de aderir à greve.

Também a diocese católica de Hong Kong pediu ao governo para não aprovar o projecto de lei “apressadamente”, e pediu a todos os cristãos que rezem pela antiga colónia britânica. 

O Reino Unido devolveu Hong Kong à China há 22 anos, sob a promessa da preservação de uma fórmula de “um país e dois sistemas”, que protegeria a autonomia do território e as liberdades civis dos seus habitantes, incluindo através de um sistema de justiça independente.

Desde então, a China tem sido acusada de interferir nos assuntos internos de Hong Kong, obstruíndo reformas democráticas, perturbando actos eleitorais e sendo suspeita do desaparecimento de cinco autores de obras críticas de Pequim.

A China tem rejeitado todas as acusações de interferência, e a imprensa oficial de Pequim acusou nos últimos dias “forças estrangeiras” de estarem a fomentar uma crise em torno da lei de extradição.