Karnart estreia espectáculo inspirado na escultura Cristo Velato

Quimeras, peça que flui entre a performance e a instalação artística, parte da famosa escultura de Giuseppe Sanmartino e desafia o espectador a criar o seu próprio espectáculo, diz o encenador Luís Castro.

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Quimeras tem encenação de Luís Castro e Vel Z Susana Neves,Susana Neves
<i>Cristo velato</i>, de Giuseppe Sanmartino, encontra-se no museu da capela de San Severo, em Nápoles
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Cristo velato, de Giuseppe Sanmartino, encontra-se no museu da capela de San Severo, em Nápoles DR

O espectáculo-exposição Quimeras, que se estreia esta sexta-feira no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, “nasce” da escultura Cristo Velato (1753), de Giuseppe Sanmartino, e desenrola-se sobre “a apropriação pela Igreja” desta figura, revelou o director artístico.

“Este espectáculo surge do fascínio por uma imagem, a estátua Cristo velato de Giuseppe Sanmartino”, afirmou Luís Castro, revelando que esse “fascínio” o levou, juntamente com Vel Z., com quem partilha a direcção artística da peça, ao Museo Cappella di San Severo, em Nápoles, onde se encontra o corpo jacente de Cristo.

“Absorvemos a envolvência e a estátua, e trouxemos isso connosco para um dia fazermos um espectáculo. Já sabíamos que este Quimeras partiria disso”, contou.

Luís Castro, que falava aos jornalistas à margem do ensaio de imprensa de Quimeras, peça que flui entre a performance e a instalação artística, explicou que é da estátua de Cristo que “nasce a ideia central” deste espectáculo com quatro intérpretes. “Elas começam inspiradas na ideia de Michelangelo [Miguel Ângelo, o artista do Renascimento italiano] de que dentro de uma pedra existem todas as formas”, afirmou o director artístico, referindo-se ao início da encenação, em que três intérpretes estão em forma de “rocha” e “mármore”, posição que ao longo do espectáculo vai sendo “esculpida”, transformando-as “numa espécie de noviças”.

Além das três “noviças”, em cena encontra-se também “uma guardiã”, que, na perspectiva de Luís Castro, representa os guardas do museu italiano que envolvem a estátua de Cristo e a vigiam.

“Esta guardiã, de repente, tornou-se numa espécie de madre superiora daquele convento de noviças”, salientou, acrescentando que, quando reparou, “a igreja” já se tinha apropriado da dinâmica da escultura e passou a assumir um papel “surpreendente”. “Isto criou outro universo metafórico relativamente à interpretação que se instalou de forma mais marcada”, sublinhou o encenador.

No Mosteiro de São Bento da Vitória, a música clássica vai acompanhando e monitorizando os corpos dos intérpretes, alguns nus e em plataformas móveis, que se relacionam com focos de luz e objectos.

“Os objectos são tão importantes quanto os actores, ou seja, têm efectivamente o mesmo grau de protagonismo. O que digo é que os actores se objectivam e que os objectos se humanizam, na medida em que os objectos acabam por ser, muitas vezes, os principais vinculadores do suporte emocional”, referiu Luís Castro, salientando os momentos perfinst [conceito de pesquisa artística que flui entre a performance e a instalação] do espectáculo.

Ao longo de toda a obra, o espectador é convidado a deslocar-se pelas diferentes representações sendo-lhe dada a liberdade de ir “construindo” o seu próprio espectáculo. “Quanto mais aberto tudo isto for para o espectador dentro da clausura, mais nos leva a viajar”, concluiu Luís Castro.

O espectáculo, para maiores de 16 anos, vai estar também em cena no sábado, às 19h, e no domingo, às 16h, e é uma co-produção Karnart, Associação de Criação e Produção de Objectos Artísticos, com o Teatro Nacional de São João (TNSJ).

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