Derrota do PSD: Rio distribui culpas pela oposição, Rangel e jornalistas

Líder do PSD, em reunião interna, não assumiu responsabilidades próprias pelo resultado das europeias.

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LUSA/TIAGO PETINGA

Numa reunião interna, Rui Rio apontou as críticas internas a que foi sujeito, a campanha agressiva de Paulo Rangel, a comunicação social e a crise dos professores como os motivos da derrota eleitoral do PSD nas europeias. Perante os dirigentes distritais, o líder do PSD não reconheceu erro algum da sua parte ou da direcção, apurou o PÚBLICO junto de várias fontes.

Na reunião de terça-feira à noite, a primeira em meses com os líderes das distritais, e após a derrota nas europeias, Rui Rio ouviu os dirigentes sociais-democratas sobre as causas dos 21,9% obtidos nas europeias e, no final, comentou alguns aspectos referidos nas intervenções. Entre eles estão as “chapadas e pontapés” que diz ter levado dos críticos internos no primeiro ano de liderança e que o impediu de falar para fora do partido. Outro motivo que apontou foi a campanha do cabeça de lista, Paulo Rangel, que no entender do líder foi muito agressiva contra o Governo, o que terá desagradado aos eleitores, e que também pecou por nacionalizar os temas e ir assim para o terreno em que se move o primeiro-ministro.

A comunicação social também não foi poupada, tendo sido acusada de ter ido atrás de uma mentira lançada pelo Governo sobre a contagem do tempo de carreira dos professores, que não foi possível desconstruir - isso, disse Rio, acabou por prejudicar o PSD.

Da parte dos líderes das distritais, as críticas foram muito suaves e ninguém apontou o dedo a Rui Rio. Logo a seguir às europeias, a direcção pôs em marcha o processo de escolha dos deputados, num calendário interno que termina no final de Julho.

Apesar de os críticos atribuírem vários erros ao líder do PSD – nomeadamente a forma como geriu a crise dos professores –, nenhum quer assumir essas posições em público por causa da proximidade das legislativas. E porque entendem que, depois do episódio de Luís Montenegro, não há condições para desafiar a liderança agora. Por isso, impera o silêncio na oposição interna. O ex-vice-presidente do PSD, Jorge Moreira da Silva, e o ex-líder da distrital de Lisboa, Miguel Pinto Luz, foram a excepção na aparente tranquilidade do partido, embora com mensagens divergentes.

Do lado de Rui Rio, uma das vozes que o apoiam, Manuela Ferreira Leite, veio defender que o actual défice é “um suicídio”, tendo em conta a carga fiscal e a degradação dos serviços públicos que implica. A ex-líder do PSD considerou que procurar superavits nestas condições é uma “loucura”. Ora, o líder do PSD tem defendido como desejável o superavit nas contas públicas, mas aos jornalistas, à entrada para um almoço no American Club nesta quarta-feira, não quis comentar as declarações de Ferreira Leite.

Durante a sua intervenção de 45 minutos, Rui Rio traçou o diagnóstico económico do país e avançou com a receita. É preciso que o modelo de crescimento assente nas exportações (e não no consumo interno), que haja investimento privado, um superavit nas contas externas e uma redução da carga fiscal, que está uma “brutalidade”, defendeu. 

Além da derrota das europeias, para gerir, Rui Rio também foi confrontado com as declarações do Presidente da República sobre a possibilidade de a direita viver uma crise nos próximos anos. O líder do PSD tentou contrariar a tese – “a crise é do sistema” –, mas coube a David Justino responder de forma mais dura a Marcelo Rebelo de Sousa. O vice-presidente de Rio afirmou, na TSF, que a crise da direita surge no discurso do Presidente “não por ser uma realidade, mas por ser um contexto favorável à candidatura” a um segundo mandato do chefe de Estado. As palavras de Marcelo, na passada sexta-feira, ainda estão a ser digeridas por PSD e CDS. 

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